LGBT

Pauta identitária ajuda a ganhar eleição, diz socialista portuguesa

A deputada socialista Isabel Moreira, de Portugal, contou como as pautas identitárias como aborto, direitos da comunidade LGBT, igualdade racial e feminismo foram pautas que ajudaram a esquerda a chegar ao poder em seu país

A deputada portuguesa Isabel Moreira (Foto: Divulgação)
Escrito en POLÍTICA el

Por Isaías Dalle, da Fundação Perseu Abramo  A defesa da descriminalização do aborto, dos direitos da comunidade LGBT, de igualdade racial e do feminismo, alguns componentes do que passou a ser chamado de pauta identitária, não atrapalham a eleição de representantes da esquerda. Ao contrário, explicitar essas bandeiras ajuda a ganhar eleições. A opinião é da deputada socialista Isabel Moreira, representante da coalização progressista portuguesa A Geringonça – nome popular dado à união da esquerda lusa que governa desde 2015 e que tem chamado a atenção do mundo inteiro por sua atuação à esquerda, de fato, e pelos até agora bons resultados econômicos e sociais. Isabel esteve em São Paulo nesta semana para participar da Conferência Internacional em Defesa da Democracia, promovida pela Fundação Perseu Abramo nos dias 10 e 11. A deputada é nascida no Rio de Janeiro, e foi para Portugal aos dois anos de idade. Em sua participação no debate, a deputada destacou que a defesa do direito ao aborto foi “projeto número um” tanto da campanha eleitoral quanto das ações da coalizão após a posse. Isabel também criticou a reiteiração da suposta supremacia do homem branco sobre as minorias. Em Portugal vigora o semi-presidencialismo, sistema em que o parlamento e o cargo de primeiro-ministro têm peso decisivo na condução das políticas. Acompanhe os principais trechos da entrevista com a deputada: Há críticas, por parte de setores da esquerda no Brasil, à pauta chamada identitária pois, segundo esses setores, teria sido dada muita importância a esses temas e isso teria atrapalhado o diálogo com o conjunto da população e ajudado na vitória da extrema-direita. O que a senhora acha? Em primeiro lugar eu gostaria de dizer que nós retomamos legislação anterior sobre o aborto, que não havia sido revogada, mas sim bastante alterada. Eu penso que é muito injusto culpar os direitos adquiridos das pessoas gays, lésbicas ou transexuais e das pessoas negras pelo desagrado que isso pode causar em parcelas que não fazem parte dessas minorias, e que isso prejudica a agenda da esquerda. A agenda da esquerda acredita nos direitos universais e na igualdade. Eu, que sou de esquerda, só vou acreditar numa sociedade justa se uma mulher que, ao contrário de mim, é negra, que ao contrário de mim, é lésbica, ou trans, tiver os mesmos direitos que eu tenho. Isso deve ser uma agenda transversal a toda a esquerda, ou seja, a esquerda não deve olhar para seu umbigo. Por outro lado, há uma crítica que eu faço a essa crítica que é o fato de que parece achar que a pauta identitária é de quem vive num mundo à parte, o que não é verdade. Quem faz a crítica costuma dizer que são pautas que dividem, em lugar de unificar, e que ocultam as pautas mais gerais como, por exemplo, a questão salarial. Acho que temos que cobrir todas as pautas, mas não esquecer essas. A luta contra o racismo nos Estados Unidos não era no início uma pauta popular. Quando foi permitido o casamento interracial em 1967, a grande maioria do povo norte-americano era contra. No entanto, qual teria de ter sido o posicionamento dos ativistas norte-americanos nessa altura? Para a coalizão de esquerda portuguesa essas pautas foram fundamentais? Sim. A juventude aderiu a elas e votou nelas. Os partidos de esquerda tinham todos em suas agendas essas pautas e tiveram maioria absoluta no parlamento. Evidentemente que os partidos não têm somente essas pautas. Mas essas pautas não ficaram escondidas. Foram amplamente debatidas.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar