Líder do governo quer plebiscito e repete Sarney: Constituição deixou Brasil "ingovernável"

Ao comentar o plebiscito no Chile, em que quase 80% da população votou a favor de uma nova constituição para substituir a da ditadura Pinochet, Ricardo Barros defendeu uma Carta Magna com mais "deveres": "A nossa só tem direitos"

Ricardo Barros (Antonio Cruz/Agência Brasil)
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Líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara e um dos principais articuladores do presidente nos últimos tempos, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) reclamou nesta segunda-feira (26) da Constituição brasileira de 1988 ao falar sobre o plebiscito chileno - que enterrou a constituição neoliberal da ditadura Augusto Pinochet - e repetiu José Sarney, de que a Carta Magna transformou o Brasil em um país "ingovernável".

“A nossa Constituição, a Constituição cidadã, o presidente (José) Sarney já dizia quando a sancionou, que tornaria o país ingovernável, e o dia chegou, temos um sistema ingovernável, estamos há seis anos com déficit fiscal primário, ou seja, arrecadamos menos do que gastamos, não temos capacidade mais de aumentar a carga tributária, porque o contribuinte não suporta mais do que 35% da carga tributária, e não demos conta de entregar todos os direitos que a Constituição decidiu em favor de nossos cidadãos”, afirmou em evento chamado "Um dia pela democracia”.

Para Barros, a atual Constituição "só tem direitos" e que é preciso escrever os "deveres" também.

“Eu pessoalmente defendo nova assembleia nacional constituinte, acho que devemos fazer um plebiscito, como fez o Chile, para que possamos refazer a Carta Magna e escrever muitas vezes nela a palavra deveres, porque a nossa carta só tem direitos e é preciso que o cidadão tenha deveres com a Nação”, disse Barros.

Alvo de investigação no Ministério Público Federal (MPF), o deputado disse ainda que “o poder fiscalizador ficou muito maior que os demais” e criticou o que classifica como "ativismo político do Judiciário".

"Os juízes, promotores, fiscais da Receita, agentes do TCU, da CGU, provocam enormes danos com acusações infundadas e nada respondem por isso, nunca respondem por nada, e o ativismo político do Judiciário está muito intenso, muito mais do que jamais poderíamos imaginar, então é preciso sim que nós possamos rever o nosso sistema".

Sarney
Em entrevista à Agência Senado em 2008, o ex-presidente José Sarney usou o mesmo discurso de Barros - de que a Constituição tornou o Brasil ingovernável - para dizer que a Constituinte de 1988 incluiu "todas as reivindicações corporativas" e defendeu a mudança do sistema político.

"Só o Parlamentarismo, com o voto distrital misto, pode atender plenamente à estabilidade que todos almejamos no Brasil", disse Sarney à época.

Crítico da Lava Jato, Barros afirmou nessa segunda que o combate à corrupção não pode ser feito “cometendo crimes” e defendeu o "parlamentarismo" como forma de governo.

“Seria um regime de governo muito mais efetivo, que nos permitiria ajustar rapidamente as crises, retomar mais rapidamente o rumo quando existe um impasse, mas vamos ainda lutar por isso”.