"Preciso respeitar meu pai", diz governadora de Santa Catarina, filha de defensor de Hitler

Ao assumir interinamente o governo de SC, Daniela Reinehr passou a ser cobrada por uma posição quanto à defesa que seu pai faz do nazismo, mas tergiversa em todas as respostas; "Estão tentando que eu faça uma briga pública familiar"

Daniela Reinehr, governadora interina de SC, e Jair Bolsonaro (Reprodução)
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A governadora interina de Santa Catarina, Daniela Reinehr (sem partido), finalmente se manifestou, nesta quinta-feira (29), sobre o fato de seu pai, o professor de História Altair Reinehr, ser um admirador de Adolf Hitler e negar o Holocausto.

Desde que tomou posse como mandatária estadual, após o afastamento do governador Carlos Moisés (PSL), no último final de semana, que Daniela vem sendo cobrada por jornalistas para dar um posicionamento sobre o assunto e deixar claro se concorda ou não com as ideias nazistas do pai. Em coletiva de imprensa na terça-feira (27), a governadora interina foi vaga na resposta.

"Eu respeito, volto a dizer, respeito as pessoas independentemente dos seus pensamentos, respeito os direitos individuais e as liberdades. Qualquer regime que vá contra o que eu acredito, eu repudio", afirmou, de maneira genérica, sem especificar qual regime ela repudia.

"Existe uma relação e uma convicção que move a mim, e acredito que a todos os senhores, que se chama família. Me cabe, como filha manter, a relação familiar em harmonia, independente das diferenças de pensamento, das defesas", completou Daniela.

Já nesta quinta-feira (28), após manifestação da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Associação Israelita Catarinense (AIC) cobrando um pronunciamento da governadora com relação às visões do pai, ela divulgou uma nota oficial afirmando que é "contra" o nazismo.

"Antes de mais nada é preciso declarar que sou contrária ao nazismo, assim como sou contrária a qualquer regime, sistema, conduta ou posicionamento que vá contra os direitos individuais, garantias de segurança ou contra a vida das pessoas, e sinceramente, pensei ter deixado isso claro quando fui questionada durante entrevista coletiva concedida na terça-feira (27/10), independente das palavras usadas", declarou.

Em entrevista ao site NSC Total, também nesta quinta-feira, Daniela disse que estão tentando provocar uma briga familiar para atacá-la. Perguntada se acredita que o Holocausto existiu, a governadora interina respondeu: "O que a gente vê nos livros é isso, a história que a gente lê".

"Estão tentando que eu faça uma briga pública familiar diante de uma atitude que eu nunca omiti. Desafio qualquer um que seja a provar que eu tenha feito qualquer coisa nesse sentido ou tenha dito qualquer palavra nesse sentido. Quero ser avaliado pelo que eu faço. Essa é uma briga em que não vou entrar, não vou aceitar esse tipo de provocação de pessoas que estão querendo me atacar. De novo estão querendo me levar de arrasto por uma coisa que não tem nada a ver comigo ou com as condutas que tenho até aqui", completou Daniela.

Em outro onto da entrevista, a mandatária estadual disse ainda que precisa "respeitar" seu pai. "Eu simplesmente respeito as pessoas, respeito o que aconteceu. Nunca entrei nesse tipo de situação e não é hoje que vou entrar. Eu peço que as pessoas me avaliem pelo que eu faço. Eu não vou entrar nesse tipo de discussão porque jamais tomei qualquer tipo de posicionamento nesse sentido de negar a história e de atacar pessoas. Eu sou uma figura pública hoje, mas preciso que respeitem também minhas relações familiares, independente das divergências de pensamento. Eu preciso respeitar meu pai, é um mandamento de Deus também. Eu sou mãe também. Estão me colocando em uma dicotomia: honrar pai e mãe e me manifestar a respeito de algo que jamais manifestei contrário. Jamais me manifestei contra qualquer fato histórico e nem faltei com respeito a ninguém. Peço que me respeitem neste momento", pontuou.

Ideias nazistas

Produtora rural e ex-policial militar, Daniela é filha do professor de História Altair Reinehr. Ele é conhecido por ter atuado como testemunha de defesa no julgamento de Siegfried Ellwanger Castan, fundador da Editora Revisão, que publicava livros antissemitas, que propunham revisionismo histórico e negavam o Holocausto. Ainda nos anos 90, Castan foi condenado à prisão pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) pelo crime de racismo, condenação que foi ratificada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2002. O editor faleceu em 2010.

Além de ter defendido o editor nazista diante da Justiça, o pai da governadora interina de Santa Catarina já fez postagens nas redes sociais em 2011 defendendo Adolf Hitler, conforme mostra reportagem da Folha de S. Paulo. Em uma publicação em que aparece em frente à casa onde Hitler nasceu na Áustria, Reinehr escreveu que o ditador responsável pelo extermínio dos judeus “num curto espaço de tempo, acabou com o problema do desemprego de 6 a 7 milhões de pessoas, revitalizou a indústria, moralizou os serviços públicos e transformou a Alemanha num canteiro de obras”, relativizando o nazismo, entre outros elogios ao chanceler do Reich alemão durante a Segunda Guerra Mundial.

Pelo Twitter, o editor do The Intercept Brasil, Leandro Demori, revelou que Reinehr foi seu professor de História no segundo grau e que ele defendia ideias neonazistas em sala de aula, “inclusive vendendo livros revisionistas”.

Como se não bastasse, o Diário do Centro do Mundo ainda trouxe à tona o fato de que o professor teria escrito um artigo em 2005, publicado no jornal “A Notícia”, de Joinville, afirmando que o Holocausto é uma “lenda”.