Sâmia Bomfim envia à CPI "farta comprovação" de omissão da EBC na cobertura da pandemia

Iniciativa vem após dossiê de funcionários da empresa pública, também entregue à CPI, sobre censura às matérias que davam a real dimensão da crise sanitária; em março, Fórum ouviu alguns desses funcionários. Relembre

Sâmia enviou à CPI materiais que comprovam omissão da EBC na cobertura da pandemia (Reprodução)
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A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) encaminhou ao relator da CPI do Genocídio, senador Renan Calheiros (MDB-AL), nesta sexta-feira (1), um conjunto de materiais que comprovam omissão e negligência da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) na cobertura da pandemia do coronavírus.

A EBC, que mantém a Agência Brasil, a TV Brasil e a Rádio Agência Nacional, é uma empresa pública que, por lei, deve ser educativa, informativa e científica. Desde o início deste ano, no entanto, que funcionários dos veículos têm denunciado imposição de censura por parte da chefia para que as reportagens sobre a Covid-19 não dessem uma dimensão real da gravidade da crise sanitária, criando um direcionamento editorial enviesado no sentido de proteger o governo na cobertura da pandemia.

A iniciativa de Sâmia vem um dia após a entrega à CPI de um dossiê, por parte de funcionários da EBC, detalhando esses casos de censura.

"A Empresa Brasil de Comunicação está sendo usada pelo atual governo federal para disseminar e reforçar narrativas negacionistas e governistas sobre a pandemia, que certamente prejudicaram o combate ao vírus da covid-19”, diz um trecho do documento dos funcionários.

O material enviado pela deputada do PSOL ao relator da Comissão deve reforçar as denúncias que já vinham sendo feitas. Isso porque Sâmia vem acompanhando de perto a situação. Em março, quando vieram à tona os primeiros relatos de blindagem ao governo na EBC, a parlamentar protocolou na Câmara um requerimento de informações (RIC nº 214/2021) para que o ministro das Comunicações, Fábio Faria, prestasse esclarecimentos sobre as denúncias.

“Há pelo menos 06 (seis) meses é de conhecimento do Ministério das Comunicações que a direção da EBC vem negligenciando e omitindo informações relevantes na cobertura do combate ao novo coronavírus (Sars-Cov-2). Por ocasião do RIC nº 214/2021, encaminhamos farta comprovação contendo diversas matérias relacionadas à pandemia, veiculadas pela EBC, que não apenas continham omissões propositais, mas também se apresentavam de modo a induzir o público ao erro. Com ares negacionistas, de viés antivacina e suporte pseudocientífico, uma verdadeira propaganda da desinformação foi colocada em prática pelos veículos de comunicação da empresa", escreveu Sâmia no documento enviado nesta sexta-feira à Comissão.

Funcionários relatam censura; relembre

Em março deste ano, à reportagem da Fórum, trabalhadores da EBC relataram situações graves no ponto de vista da independência jornalística. Esses relatos dão conta, por exemplo, de que já existiram situações em que pesquisas que mostrariam a evolução da Covid no Brasil chegaram a ser vetadas. Isso teria acontecido com um estudo da Imperial College, da Inglaterra, sobre a transmissibilidade da Covid. “A gente chegou a dar quando estava em queda, quando começou a subir paramos de dar”, revelou um jornalista.

A blindagem também estaria acontecendo através da filtragem de notícias que envolvam críticas de opositores a Jair Bolsonaro e orientações para só dar destaque a um adversário político do governo se for para compor uma pauta “negativa”. “Citar o João Doria [governador de São Paulo] só se for para ter matéria negativa sobre ele”, exemplificou um funcionário.

Um outro jornalista da EBC ouvido pela Fórum confirma que a empresa pública direciona sua cobertura à agenda oficial de Jair Bolsonaro e seus ministros e encampa seus discursos, os blindando das críticas e diluindo a cobertura da pandemia em anúncios institucionais e números frios que, segundo ele, “criam uma narrativa de que a situação não é tão problemática”.

“Existe um governismo instaurado que protege a ineficiência do combate ao Covid. É uma cobertura propositalmente desumana”, pontuou, exemplificando que nesta cobertura não há, por exemplo, a presença de rostos, nomes e histórias dos infectados e vítimas da doença.