"A CPI cumpriu o seu papel e salvou muitas vidas”, diz senador Humberto Costa

A Comissão chega em sua reta final e alguns senadores conversaram com a Fórum e avaliaram os objetivos alcançados e os possíveis impactos políticos do relatório final

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Após mais de 160 dias de trabalho, a CPI da Covid entra em sua reta final nesta quinta-feira (7) com os depoimentos do ex-paciente da Prevent Senior, Tadeu Frederico de Andrade, que foi feito de cobaia pela rede, e do médico Walter Correa de Souza, que trabalhou 8 anos na Prevent e é um dos profissionais que organizou o dossiê sobre o experimento que a rede hospitalar fez com os seus pacientes com o "Kit Covid".

A sessões de depoimentos deveriam ser encerradas nesta quinta, mas, a Comissão aprovou uma nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Resta saber se ele vai novamente depor para os senadores.

Em todo caso, está marcado para o dia 19 desse mês a apresentação do relatório final a ser elaborado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão. No dia 20, o documento vai à votação. A partir daí, a CPI em si encerra os seus trabalhos, mas, o seu conteúdo deve reverberar no mundo político e com certeza deve pautar, em grande medida, o debate eleitoral de 2022.

A Fórum conversou com alguns senadores que tiveram papel destacado na Comissão para saber qual será o impacto do relatório final no cenário político e se a CPI conseguiu alcançar o seu objetivo estabelecido lá no início, que era comprovar que o governo Federal se omitiu no combate ao coronavírus.

Para o senador Humberto Costa (PT-PE) o trabalho realizado pela CPI da Covid não tem paralelo no Brasil. "Haverá uma enorme repercussão de todo esse trabalho, que foi sem paralelo para o Brasil. Das pensões aos órfãos da covid à denúncia nos foros internacionais, teremos uma larga continuidade e reverberação do que fizemos neste colegiado", analisou Costa.

Quem também avalia de maneira positiva o trabalho da CPI é o senador Rogério Carvalho (PT-SE), para ele a Comissão evitou que esquemas de corrupção em torno da compra de vacinas fossem adiante. "A CPI proporcionou antecipar o cronograma de vacinas, pressionou para que tivesse vacinas para todos os brasileiros, impedimos que tivesse esquemas de corrupção bilionário montados no Palácio do Planalto", avalia o senador.

Por sua vez, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) declarou à Fórum que o relatório é o início de um processo. “A CPI é um instrumento do Senado Federal que inicia um processo que é um inquérito de investigação. Nós temos poderes como se fôssemos delegados: oitiva de testemunha, juntada de documentos, análise pericial, quebra de sigilos, mas esses documentos todos, esse relatório aprovado na CPI ele é apenas o início de um processo. Agora esse bastão vai ser entregue às autoridades competentes, leia-se Ministério Público e Judiciário, para continuar da forma devida à investigação e depois de responsabilização”, explica a senadora.

Objetivo alcançado?

O senador Humberto Costa é categórico e afirma que "com certeza" a CPI alcançou o seu objetivo. "O maior deles foi fazer esse governo incompetente de Bolsonaro se mover. Graças ao trabalho da CPI, vacinas foram compradas, o calendário de imunização avançou, a população acordou para a quantidade de mentiras difundidas por esses charlatões que defendiam imunidade de rebanho e tratamentos ineficazes. Mostramos a corrupção que grassa nas entranhas da administração, sob o nariz, a conivência e o benefício do presidente da República e de sua família. Então, acredito que a CPI cumpriu seu papel e, sobretudo, salvou muitas vidas a partir do momento em que fez esse governo desastroso se mover", declarou o petista.

Na mesma linha do senador Humberto Costa, a senadora Simone Tebet afirma que a CPI "descontinuou os atos insanos do presidente da República". "Estou falando de um governo insensível e cruel que entendeu a pandemia como uma gripezinha. Então está comprovado na primeira fase a estratégia de imunidade de rebanho, vai estar comprovado no relatório o negacionismo e através dessa visão torpe e míope de mundo (do governo federal) quais foram as estratégias, ações e omissões cometidas. E no meio do processo havia uma pedra gigantesca, qual foi? Nós descobrimos através de um deputado bolsonarista que havia uma tentativa de compra de vacinas superfaturadas e, portanto, a CPI impediu a compra dessas vacinas”, comemora a senadora.

Em seguida, Simone Tebet afirma que “diante de todo esse cenário dantesco, diante de todos esses fatos comprovados com materialidade, sobra pouco espaço para teses, digamos assim, pessoais do relator”.

Além de corroborar as análises da senadora Simone Tebet e Humberto Costa, o senador Rogério Carvalho afirma que a CPI cumpriu a missão e que o presidente Bolsonaro será responsabilizado no relatório final. "A responsabilização do presidente já está caracterizada no relatório. A CPI fez o seu trabalho, agora o povo precisa cobrar do Arthur Lira (Presidente da Câmara dos Deputados) que faça o trabalho dele (abrir o processo de impeachment). Estamos todos exaustos, porém, com a sensação de dever cumprido”, disse Carvalho.