O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que depois de apoiar Jair Bolsonaro na última eleição vem tentando se descolar do presidente extremista, já que o gaúcho é pré-candidato ao Palácio do Planalto em 2022, criticou durante a última semana a PEC dos Precatórios, aprovada em 1° turno na Câmara na noite de quarta-feira (3), mas liberou a bancada de seu partido no parlamento federal para votar a favor da manobra do calote.
A informação foi passada por Alecx Ferreira, chefe de gabinete do deputado federal Lucas Redecker (PSDB-RS). Inicialmente, o assessor havia dito que Leite determinara aos parlamentares que votassem "sim", mas depois corrigiu a declaração dizendo que o governador gaúcho "liberou" o voto, mesmo sabendo de antemão que todos decidiriam em favor da PEC, que tem por objetivo liberar R$ 63 bilhões do orçamento para que Jair Bolsonaro dê R$ 400 a 17 milhões de famílias até o final da eleição do ano que vem, o que constituiu um projeto claramente eleitoreiro para viabilizar a reeleição do mandatário radical, que vê sua popularidade derreter depois de três anos de um governo caótico e desastroso.
O secretário da Casa Civil do governo do Rio Grande do Sul, Arthur Lemos, correu para tentar justificar a anuência de Eduardo Leite os votos favoráveis à PEC, vista como uma óbvia contradição em relação ao discurso crítico do chefe, que vive às turras com Bolsonaro, e que invariavelmente lança ataques homofóbicos ao chefe do Executivo estadual, que assumiu ser gay.
“Tínhamos dois pontos de atenção: a autorização para que 100% dos recursos advindos dos empréstimos pudesse ser feita via negociação direta com os precatoristas e o índice de correção dos precatórios. Esses eram os pontos de atenção que conversamos com nossos parlamentares e que eram cruciais ao Estado do Rio Grande do Sul. Agora, não defendemos os demais pontos da proposta e claro que somos totalmente contra a furar o teto de gastos”, tentou explicar Lemos.
Ciro fez o mesmo
O verborrágico pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, acordou nesta quinta-feira (4) soltando os cachorros contra os 15 deputados de sua legenda que votaram a favor da PEC que estoura o teto de gastos e joga a santificada responsabilidade fiscal pelo ralo para instituir um mecanismo quase que de compra de votos que beneficiará Jair Bolsonaro. O ex-ministro e ex-governador cearense suspendeu até sua candidatura ao Executivo federal após o papelão dos parlamentares pedetistas.
No entanto, há poucas horas, o deputado Paulo Ramos (PDT-RJ), um dos parlamentares que contrariou a orientação partidária e decidiu acompanhar a oposição no voto contrário à PEC dos Precatórios, criticou a reação do ex-ministro Ciro Gomes após o partido orientar voto favorável ao projeto. Para Ramos, o presidenciável já sabia da articulação.
“Não acredito que eles não tenham conversado com o Ciro Gomes, porque se eles fizeram isso é muito mais condenável”, afirmou Ramos à coluna Painel, da Folha.
O deputado comentou sobre a reunião de bancada que foi feita pouco antes da votação e disse que parecia que “tudo estava articulado com o Ciro e com a cúpula do partido”.
O parlamentar destacou que a bancada do Ceará participou da articulação com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e que isso dava um indicativo de que Ciro sabia o que estava ocorrendo.