MP investiga suplente de Major Olímpio por caso que foi alvo de CPI no Paraguai; entenda

Empresário Alexandre Giordano está envolvido em uma negociação ainda pouco explicada ocorrida há dois anos e que supostamente teria beneficiado a família Bolsonaro

Alexandre Giordano e Major Olímpio. Reprodução
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Suplente de Major Olímpio (PSL-SP) no Senado, o empresário Alexandre Giordano será investigado pelo Ministério Público Federal (MPF). O órgão instaurou inquérito civil para apurar "indícios de improbidade administrativa" em benefício de uma empresa privada.

Giordano está envolvido em uma negociação ainda pouco explicada ocorrida há dois anos no Paraguai e que supostamente teria beneficiado a família Bolsonaro. Segundo a imprensa local, um representante do governo teria manobrado uma modificação no novo contrato de Itaipu com o objetivo de beneficiar a empresa Léros, ligada ao clã.

O senador foi apontado pelo advogado paraguaio José “Joselo” Rodríguez González – um dos envolvidos no escândalo – como o intermediário brasileiro do esquema. Ele, no entanto, afirmou que não conhece “ninguém do Paraguai” nem da família Bolsonaro.

As versões que circulam sobre o caso são contraditórias. Três figuras tidas como centrais nesse caso, Joselo, o vice-presidente Hugo Velázquez – quem teria colocado o advogado nas tratativas – e Giordano, contam histórias distintas, abrindo margem para muita especulação.

O caso, que não teve grande repercussão no Brasil, fez o diretor da estatal elétrica paraguaia Ande, Pedro Ferreira, o ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni, e outras duas autoridades do país vizinho a pedirem renúncia.

Quem é Alexandre Luiz Giordano

Reportagem de 2019 publicada pelas jornalistas Anna Beatriz Anjos, Bruno Fonseca e Rute Pina, na Agência Pública, detalha as polêmicas do senador, apontado como uma pessoa discreta e que gosta de trabalhar nos bastidores por não possuir boa oratória “nem afinidade com falas públicas”, segundo pessoas próximas ouvidas pela reportagem. Mas, apesar da timidez, o parlamentar tem gosto pela ostentação.

O nome de Giordano ficou mais famoso no Paraguai do que no Brasil nos últimos anos. O empresário esteve envolvido no escândalo do acordo secreto do país vizinho com o Brasil sobre a usina hidrelétrica binacional de Itaipu, que beneficiaria empresa ligada ao clã Bolsonaro. 

Giordano teria negociado o contrato junto aos sócios da empresa Léros. Ele foi ao menos três vezes ao país em 2019. Giordano esteve junto ao empresário Kléber Ferreira em praticamente todas as negociações com o governo do Paraguai sobre as cláusulas da Usina hidrelétrica binacional. Reportagens da imprensa paraguaia revelaram conversas via WhatsApp de autoridades paraguaias falando em negócios privilegiados para a Léros por indicação de Alexandre Giordano e citam que família Bolsonaro estava por trás da empresa.

No acordo entre a Léros e o governo paraguaio, um dos termos – classificado pela mídia paraguaia como item 6 – teria sido excluído para beneficiar a empresa brasileira, do setor de energia. O “item 6” estava no projeto original do acordo e dizia que a Administración Nacional de Electricidad (ANDE), do Paraguai, poderia comercializar energia excedente no mercado brasileiro, afetando os negócios da Léros. Técnicos da estatal paraguaia Ande reclamam não ter participado das reuniões que decidiram o acordo, beneficiando apenas o comércio brasileiro.

Na ocasião, ele disse ao jornalista Sérgio Roxo, da Época o seguinte: “Não sou político, sou empresário. Não vivo disso. Estou nessa polêmica à toa”.

O novo senador, que atua no ramo dos resíduos, ainda coleciona processos na Justiça. Em um deles, um pedreiro denuncia o parlamentar por não ter pago o serviço. Ele também já foi alvo de reintegrações de posse por ocupar irregularmente um terreno vizinho.

Quando questionado pela Agência Pública sobre os negócios do suplente, Olímpio disse o seguinte: “Eu sei que ele trabalha fazendo estruturas metálicas para poste, com lixo e esses ‘trecos’ todos. Mas não sou sócio dos negócios dele e ele não é sócio do meu mandato. Ele só vai ser senador se eu morrer ou renunciar; e eu não estou pretendendo nenhuma das duas coisas”. Giordano teria sido escolhido para a suplência por ter prometido ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) a ajudar a estruturar a legenda.

O segundo suplente da chapa é o astronauta Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia.