No Senado, Pazuello mente e diz que não sabia que oxigênio poderia faltar em Manaus

Em 18 de janeiro, o ministro da Saúde deu a seguinte declaração: "No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins, de que poderia haver falta de oxigênio [em Manaus]"

Foto: Pedro França/Agência Senado
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Durante sabatina no Senado Federal, o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, mudou a versão dos fatos diante da falta de oxigênio em Manaus. Após admitir em coletiva que sabia que a situação do oxigênio em Manaus diante da pandemia era crítica e que a capital do Amazonas poderia sofrer desabastecimento, o ministro disse ao Senado que não sabia.

"Os fatos relatados, puros e secos, indicam deficiência na gestão dos hospitais por dificuldades técnicas em redes de gases. Em momento algum fala-se sobre falta de oxigênio, colapso de oxigênio ou previsão de falta de oxigênio. Rede de gases são os tubos, e não o oxigênio que vai dentro. Pressurização entre o município e o estado é [questão de] regulação entre um e outro. O Ministério da Saúde não tem qualquer competência para fabricação, transporte e distribuição e oxigênio", disse ao Senado.

O comentário, no entanto contradiz tanto uma coletiva concedida por Pazuello no dia 18 de janeiro quanto um ofício enviado pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao STF.

“No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins, de que poderia haver falta de oxigênio [em Manaus] se não houvesse ações para que a gente mitigasse este problema”, afirmou o ministro na coletiva do dia 18. O colapso ocorreu em 14 de janeiro, seis dias após Pazuello ser informado.

Senadores reagiram à declaração. "Eu estive com Vossa Excelência, no seu gabinete, em dezembro. Eu já dizia que nós iríamos enfrentar uma onda no Amazonas muito grave. Sugeri, inclusive, que assumisse uma unidade hospitalar no Amazonas, diante da comprovação da ineficiência do governo do meu estado. Eu dizia a Vossa Excelência que, se não tomasse providências para assumir a execução, não seria executado. Isso nós já sabíamos quando da primeira onda", afirmou Eduardo Braga (MDB-AM), líder do MDB.

"Não é possível dizer que a falta de oxigênio no Amazonas foi em função de falta de pressão entre redes inexistentes. Isso não é verdade", completou.

O líder da Minoria, senador Jean Paul Prates (PT-RN), criticou a postura do ministro. “O ministro comparece ao Senado para informar que está tudo bem no planejamento do governo. Indica que tudo foi feito como previsto, e age com a naturalidade distópica que marca a Gestão Bolsonaro. Em algum momento será traçada uma linha da responsabilidade do que está acontecendo no Brasil na gestão desta pandemia! Alguém vai ter que responder por todas essas mortes!”, disse à Fórum.

Prates ainda criticou a falta de respostas de Pazuello e cobrou uma CPI. "Espertamente, o ministro aproveitou-se das regras adotadas para a audiência que não permitiram aos senadores cobrar as respostas. Mas acho que seria bom lembrar ao Ministro que foi apresentado a esta Casa Requerimento de autoria do senador Randolfe para abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Numa CPI podemos ter as respostas que não estão sendo dadas aqui", afirmou.

Com informações da Agência Senado