Necropolítica explica atuação de Bolsonaro na pandemia, diz revista Lancet

Pesquisadores apontam que Bolsonaro forçou os pobres a escolherem entre a fome ou a contaminação pela Covid-19

Foto: Reprodução/TV Globo
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Artigo publicado na revista The Lancet, uma das principais publicações científicas do mundo, neste sábado (13) dá destaque ao desastre do combate à Covid-19 no Brasil e acusa o governo do presidente Jair Bolsonaro de adotar a agenda da necropolítica.

"Richard Horton apontou a importância da biopolítica de Foucault como conceito para a compreensão do COVID-19. Ao elogiar seu comentário, acrescentaríamos que em países como o Brasil, COVID-19 não trata apenas da política do corpo, mas da política da morte", diz trecho da publicação assinada pelos pesquisadores Rafael Dall'Alba, Cristianne Famer Rocha, Roberta de Pinho Silveira, Liciane da Silva Costa Dresch, Luciana Araújo Vieira e Marco André Germanò.

Na sequência, o texto aponta que "o Brasil tem se destacado por suas desastrosas ações governamentais no combate à COVID-19" e cita como exemplo a tentativa de privatizar a atenção primária de saúde durante a pandemia, a ausência de um plano nacional contra a doença, os problemas logísticos no plano de vacinação e o forte negacionismo do governo.

Citando Achilles Mbembe, os pesquisadores relacionam a atuação do Brasil com a necropolítica, "que aponta como as condições de risco, doença e morte operam seletivamente em favor das políticas econômicas neoliberais, reflete as narrativas nutridas que afetaram predominantemente populações pobres, negras e indígenas".

"Na periferia do mundo, a COVID-19 ampliou especialmente as consequências deletérias das políticas de austeridade. Enquanto EUA, Reino Unido e outros países aumentaram os gastos sociais em resposta à panndemia, o governo brasileiro optou por fortalecer as políticas econômicas que impossibilitaram grande parte da população para isolar adequadamente do contato físico", sustentam.

Para o grupo, o 'E daí?' de Bolsonaro representa bem "as políticas sistematicamente implementadas durante sua presidência para enfraquecer as instituições, criando um cenário diferente e muito mais dramático do que o controle biopolítico". Segundo os pesquisadores, isso aponta para uma decisão seletiva "de quem deve pagar pelos impactos da pandemia, forçando os pobres a escolher entre a fome ou a contaminação em estado de morto-vivo".

"Com mais de 227.500 vidas perdidas na COVID-19, até 4 de fevereiro de 2021, podemos dizer que a necropolítica está, ironicamente, viva no Brasil", finaliza o artigo. Até este sábado (13), o número de vítimas fatais já cresceu para 237.489.

CONFIRA AQUI O ARTIGO PUBLICADO NA LANCET, EM INGLÊS