"Moro quer um acordo com Palocci pela mesma razão do Léo Pinheiro", disse Deltan a procuradores

Diálogo obtido na Operação Spoofing indica que Moro coordenou atuação do MP sobre Palocci

Reprodução
Escrito en POLÍTICA el

Novas conversas obtidas através da Operação Spoofing apresentadas pela defesa do ex-presidente Lula ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostram o procurador Deltan Dallagnol falando com procuradores sobre a necessidade de conversar com o ex-juiz Sérgio Moro para agir com o ex-ministro Antonio Palocci. O magistrado queria fazer de tudo por uma delação com ele.

"Após analisarmos Palocci, temos que falar pro Moro, que não vai querer a pena aliviada num caso dele sem justificativa e tem ponte com TRF", escreveu Dallagnol.

"Segundo a Laura [Tessler], o Moro quer um acordo com o Palocci pela mesma razão do Leo Pinheiro", completou.

O diálogo foi mantido em 3 de maio de 2018, dois meses antes do ex-ministro conseguir fechar um acordo de delação com a Polícia Federal e o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região.

Essa delação, acusada de ter sido feita apenas com base em notícias de jornal, acabou sendo publicizada pelo ex-juiz Sérgio Moro às vésperas das eleições de 2018, afetando o PT na disputa. Procuradores chegaram a criticar esse vazamento.

Em petição em que envia a Lewandowski as conversas já periciadas, a defesa de Lula alega que "o material analisado revela que o então juiz SERGIO MORO era quem efetivamente definia os acordos de colaboração premiada (delação premiada) firmados pelo MPF (em manifesta violação ao disposto no art. 3-A, §6º, da Lei nº 12.8501) — notadamente em relação a pessoas que foram utilizadas de forma central nas acusações e condenações ilegítimas impostas ao Reclamante [Lula]".

Léo Pinheiro

Mensagens obtidas pela Vaza Jato em 2019 mostram que o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, citado na mensagem de Deltan, mudou seu acordo de colaboração premiada duas vezes para poder ter o depoimento aceito.

A delação de Pinheiro foi a principal base para a condenação do ex-presidente Lula no caso do Tripléx do Guarujá e foi justamente a versão sobre o aparamento que foi alterada.

“Tem que prender Leo Pinheiro. Eles falam pouco. Me parece que não está valendo a pena”, escreveu o procurador Januário Paludo em abril de 2017.

Palocci e STF

A liberação da delação de Palocci às vésperas das eleições foi duramente criticada na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal durante a apreciação do Habeas Corpus (HC) 163.943, apresentado pelo ex-presidente Lula por quebra de imparcialidade do ex-juiz Moro na decisão sobre a liberação da colaboração premiada.

Ricardo Lewandowski apontou em seu voto – que foi referendado por Gilmar Mendes – que Sergio Moro, “além de influenciar, de forma direta e relevante, o resultado da disputa eleitoral, conforme asseveram inúmeros analistas políticos”, “violou o sistema acusatório, bem como as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa”.