Comparação de Mário Frias entre pandemia e holocausto é "desinformativa" e "negacionista", diz antropóloga

Secretário de Cultura ainda atacou organização judaica e depois apagou tuítes. Adriana Dias vê "antissemitismo profundo" em comentários do ator

Mario Frias - Foto: Reprodução
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O secretário de Cultura do governo Bolsonaro, Mario Frias, comparou as medidas restritivas da pandemia do coronavírus ao holocausto em publicação nas redes sociais, nesta quinta-feira (11). Para a antropóloga Adriana Dias, doutora em antropologia social pela Unicamp e pesquisadora há anos do nazismo, os comentários do ator são "desinformativos" e "negacionistas".

"É ridícula a comparação. A comparação é, na verdade, desinformativa, é uma agressão aos sobreviventes do holocausto. Usa da memória do holocausto quase de forma negacionista", condenou a especialista.

"O holocausto é uma estrutura do estado concebida para matar. A pandemia é uma fatalidade sanitária que todos nós estamos vivendo, na qual o Estado deveria oferecer uma estrutura para salvar vidas. Salvar vidas com certeza não é liberar vidas para trabalhar, desrespeitar as medidas sanitárias da OMS", completou.

O perfil do Museu do Holocausto confrontou o secretário no Twitter. "É desta forma que pretende se opor às medidas de combate à pandemia? Crê que a analogia com esta paródia agressiva não ofende sobreviventes e descendentes? Que não prejudica a construção da memória do Holocausto?”, questionou.

Em resposta, Mario Frias disse que é “preciso discernimento para se analisar uma postagem” e cometeu um erro grave de gramática.

“Sem duvida é preciso discernimento para se analisar uma postagem. Todos que sofreram desse horror tem meu respeito e solidariedade. O trexo (sic) do filme retrata bem uma situação que estamos vivenciando, guardadas as devidas proporções. Fique com Deus e vá trabalhar”, retrucou.

Adriana Dias enxerga um "antissemitismo profundo" na atitude do secretário em mandar o Museu do Holocausto "trabalhar", destacando que, durante a Alemanha nazista, a frase "o trabalho liberta" foi colocada nas entradas de vários campos de extermínio.

"A postura do Mário Frias mandando trabalhar e dizer para 'ficar com Deus' é de um antissemitismo profundo. Lembremos que esse governo já usou a ideia de que trabalho liberta. Ele está querendo dizer que o Museu do Holocausto não trabalha? É isso? Aainda assim, que ele fique com 'Deus'. Que 'Deus' acredita Mário Frias? Ele respeita o judaísmo? Eu sugeriria que primeiro ele estudasse gramática, a língua portuguesa e a história do holocausto, antes de se dirigir ao Museu do Holocausto", condenou a antropóloga.

As publicações foram apagadas do perfil minutos após serem publicadas, mas a Fórum fez o print de todas as imagens.