Nise Yamaguchi processa membros da CPI e quer R$320 mil por danos morais

Defensora da cloroquina e apontada como integrante do "gabinete paralelo" que orientava Bolsonaro com negacionismo, a médica se sentiu humilhada pela CPI após ter seus conhecimentos científicos colocados em xeque

Nise Yamaguchi em depoimento à CPI do Genocídio (Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado)
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A médica oncologista Nise Yamaguchi, que passou da condição de testemunha para investigada pela CPI do Genocídio, decidiu processar o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), bem como o senador Otto Alencar (PSD-BA), médico e membro do colegiado.

Ela pede à Justiça uma indenização R$ 160 mil de cada um dos senadores por danos morais, o que totalizaria R$ 320. Os advogados da médica, no entanto, citam um valor de R$360 mil considerando correção monetária e juros após eventual sentença condenatória.

A alegação é que Nise teria sido humilhada durante seu depoimento à CPI no dia 1 de junho. Na ocasião, a médica citou estudo descontinuado para defender a cloroquina, remédio que não tem eficácia comprovada contra a Covid, e foi rebatida pelos senadores, principalmente por Otto Alencar, que é médico.

Em dado momento, Alencar colocou os conhecimentos científicos de Nise em xeque e ainda perguntou se ela sabia a diferença entre um vírus e um protozoário - e não obteve resposta.

"Não queria constranger a senhora, mas a senhora não saber responder absolutamente nada. Não soube dizer o que é um vírus e o que é um protozoário. Qualquer menino de segundo ano, de terceiro ano, – eu fui professor de química e biologia – isso aí é bê-a-bá. A senhora jogou no escuro com um grupo de pessoas que não sabiam nada da doença. A senhora brincou com a saúde do povo brasileiro", criticou o senador.

Esse tipo de crítica, no entanto, é interpretada por Nise como um "massacre moral". "Como se depreende dos documentos ora juntados e será demonstrado na instrução processual, os requeridos [os senadores] agiram intencionalmente com morbo e com deliberada crueldade no escopo de destruir a imagem da requerente [Nise] perante toda a sociedade brasileira, que atônita, viu um ser humano ter destroçada a sua dignidade enquanto médica, cientista e mulher", dizem os advogados da médica na ação, que apontam ainda "cumplicidade" por parte de Omar Aziz.

Nise é apontada como uma das integrantes do chamado "gabinete paralelo" que abastecia o presidente Jair Bolsonaro com orientações negacionistas, inclusive pregando contra as vacinas.