Dias afirma na CPI que "intervenção militar" no Ministério da Saúde não trouxe nenhum benefício

Ex-diretor de Logística da pasta, acusado de pedir propina pela compra de vacinas, foi provocado pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE)

Roberto Ferreira Dias (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
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Em depoimento à CPI do Genocídio nesta quarta-feira (7), o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, afirmou que a "militarização" da pasta não trouxe nenhum benefício para o serviço público e o combate à pandemia.

Dias é acusado por Luiz Paulo Dominghetti, que se diz representante da Davati Medical Supply, empresa que tentou vender vacinas Oxford/Astrazeneca ao governo, de ter pedido propina de 1 dólar por cada dose.

Ao longo de sua oitiva na CPI, o ex-diretor de Logística negou o pedido de propina e afirmou que não negociou qualquer compra de vacina, apesar de ter confirmado o encontro com Dominghetti em um restaurante de Brasília no dia 25 de fevereiro, com a presença coronel da reserva Marcelo Blanco da Costa, ex-assessor do Ministério da Saúde, que teria sido o responsável por seu contato com o suposto vendedor de imunizantes.

Devido à presença do coronel no encontro, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) perguntou a Dias se a "intervenção militar" ocorrida no ministério com a chegada do ex-ministro Eduardo Pazuello trouxe algum benefício, citando o fato de mais de 20 militares terem sido nomeados para cargos na pasta.

"No meu setor, em particular, não", respondeu Dias. Vieira, então insistiu: "Essa linha [de militarização da Saúde] se fez presente durante toda a gestão de Pazuello. Consegue esclarecer como começa sua interação com a Davatti?".

O ex-diretor de Logística respondeu que o Coronel Blanco foi quem o notificou sobre "400 milhões de doses de vacina a pronta entrega" e que disse a ele ser "difícil que isso aconteça" e, por isso, teria pedido o contato do fornecedor.

Alessandro Vieira achou estanho que Dias teria aceitado checar a proposta, uma vez que ele mesmo afirmou à CPI que aquela não seria uma atribuição sua. Ele justificou o questionamento do senador, no entanto, afirmando que o fez "porque não tinha negociação".

"Consegue imaginar por que o coronel Blanco não encaminhou [a proposta de venda de vacinas] para o secretário Executivo do Ministério da Saúde [quem teria a atribuição de negociar] e, sim, para você?", questionou Vieira.

"É só uma pessoa que trabalhou comigo e veio avisar que tinha vacina", respondeu, de forma vaga, Dias.

Desmentido

O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que Roberto Dias mentiu várias vezes durante seu depoimento à CPI do Genocídio. “É mais um que vem para tentar enganar a CPI”, disse o parlamentar.

Carvalho desmentiu Dias em inúmeras oportunidades, a começar pela declaração de que ele se manteve no cargo no ministério por sua competência. “O senhor foi nomeado com o aval do Ricardo Barros”, afirmou, se referindo ao deputado do PP-PR, líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara.

O petista afirmou, também, que Dias já mantinha contato com representantes da Davati antes do jantar do dia 25 de fevereiro, em um restaurante de Brasília, onde, supostamente, houve o pedido de propina por parte do ex-diretor do Delog para Luiz Paulo Dominghetti.

“O senhor já mantinha conversações desde o dia 10 de fevereiro. Isso prova que o encontro no restaurante não foi um acaso, mas, sim, programado”, constatou, para contradizer o que havia informado à comissão o ex-diretor de Logística.