A Comissão trabalha com a suspeita de que o líder do governo Bolsonaro na Câmara tenha participado de negociações escusas de vacinas com Roberto Ferreira Dias
Antes de iniciar o interrogatório de Tulio Silveira, responsável jurídico da Precisa Medicamentos, envolvida nas negociações da Covaxin, o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), declarou que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) se tornou um investigado formal da Comissão.
Para Calheiros, Barros teria participado das negociações de vacinas no Ministério da Saúde por meio do ex-diretor de logística do MS Roberto Ferreira Dias.
Silêncio
Antes de mesmo de começar a responder as questões da CPI, o advogado de Tulio Silveira pediu a palavra e fez um longo discurso para justificar o fato de que o seu cliente ficaria em silêncio.
Quando o presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), deu a palavra para que Silveira fizesse o discurso de abertura o repreendeu e afirmou que não era para ele fazer como outros depoentes, contar histórias e depois ficar em silêncio.
Diante da reprimenda, Tulio Silveira se limitou a defender o seu direito ao silêncio e assim permaneceu.
Ricardo Barros culpa CPI por “espantar” vendedores de vacinas
Em mais uma provocação durante seu depoimento nesta quinta-feira (12), o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), culpou a CPI do Genocídio por afastar vendedores de vacinas do Brasil e causou revolta entre os integrantes da comissão, que foi suspensa pela segunda vez em pouco mais de 3 horas de sessão.
“O mundo inteiro quer comprar vacinas. E eu espero que essa CPI traga bons resultados para o Brasil, produza um efeito produtivo para o Brasil. Porque o negativo já produziu muito. Afastou muitas empresas interessadas em vender vacina para o Brasil, que não se interessam mais…”, provocou o deputado, despertando a revolta entre membros da comissão.
“Aí não dá. [A CPI] foi para impedir que houvesse roubo”, disse o senador Humberto Costa (PT-PE). “Afastamos as vacinas que vocês do governo queriam tirar proveito, rapaz”, emendou o presidente, Omar Aziz (PSD-AM), antes de suspender a sessão para avaliar o convite ao deputado.
Áudios de Dominghetti provam que Dias mentiu ao dizer que não marcou encontro para negociar vacinas
Áudios do celular do cabo da PM de Minas Gerais Luiz Paulo Dominghetti, que se diz representante de empresa de vacinas, sob posse de membros da CPI do Genocídio, e que foram reproduzidos na sessão desta quarta-feira (7), provam que o ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, mentiu ao dizer para os senadores que o jantar com o suposto vendedor de imunizantes foi “acidental”.
Dias havia afirmado aos senadores que conheceu Dominghetti na noite do dia 25 de fevereiro. Dominghetti, que se diz representante Davatti Medical Supply, empresa que queria vender doses da vacina Oxford/Astrazeneca ao governo, afirmou que Dias o pediu propina de 1 dólar por dose do imunizante. Dias nega.
“Rafael, acabei de sair aqui do Ministério. Tudo redondinho. O Dias vai ligar pro Cristiano (representante da Davati no Brasil) e conversar com o Herman (CEO da Davati) ainda hoje, tá. Ele tá afinando essa compra aí, várias reuniões certificando a turma de que a vacina já está à disposição do Brasil. Se for da Astrazeneca, melhor ainda”, diz Dominghetti.
As contradições de Dias em seu depoimento à CPI fizeram o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), mandar prendê-lo.
“Estou cansado de mentiras. Pedi à polícia do Senado para que o senhor seja preso. Ele está mentindo desde de manhã. Vai ser preso por perjúrio”, disse Aziz.