Vice-presidente da Câmara fala em crime de Bolsonaro caso ele desrespeite STF

Marcelo Ramos (PL-AM) diz que presidente tenta criar fato político para tensionar a crise entre Poderes; Lira (PP-AL) estaria "preocupado"

Marcelo Ramos e Arthur Lira (Foto: Agência Câmara)
Escrito en POLÍTICA el

A cúpula da Câmara dos Deputados observa com preocupação as movimentações do presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores às vésperas do feriado de 7 de setembro, quando bolsonaristas pretendem fazer manifestações de cunho golpista.

O presidente já confirmou presença nos atos, que terão, entre suas pautas, a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e intervenção militar.

Nesta segunda-feira (23), o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), sinalizou que Bolsonaro pode cometer crime de responsabilidade caso crie um fato político para desrespeitar a Corte.

"Notícias dizem que Bolsonaro tensiona para criar um fato político desobedecendo uma decisão do STF. Não acredito que chegará a esse ponto. Mas, se chegar, caracterizado estará o crime de responsabilidade e a Câmara não poderá negligenciar com isso", declarou através das redes sociais.

"O melhor para todos e para o país é baixar a temperatura e gastar toda a energia pra combater o desemprego, a fome, a inflação, os juros crescentes, o descontrole do dólar e, claro, não permitir novo avanço da pandemia. Só isso pode mudar pra melhor a vida dos brasileiros", prosseguiu o parlamentar.

https://twitter.com/marceloramosam/status/1429782110286622722

Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), segundo apuração da jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, teria conversado com aliados e admitido a "gravidade" da crise gerada por Bolsonaro, que na última sexta-feira (20) apresentou ao Senado pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Lira teria dito que é preciso uma mudança de tom por parte de Bolsonaro para que "esta semana não termine na mesma temperatura com a qual está começando".

Governadores preocupados

Governadores de 23 estados e do Distrito Federal se reuniram, em Brasília e através de videoconferência, nesta segunda-feira (23), para debater as ameaças que o presidente Jair Bolsonaro vem encampando contra a democracia.

A ideia da reunião foi estabelecer um canal de diálogo entre os poderes para “acalmar os ânimos” da crise. Por unanimidade, os mandatários estaduais decidiram solicitar uma audiência com o titular do Palácio do Planalto, bem como como os presidentes da Câmara, do Senado e do próprio STF.

“O objetivo é demonstrar a importância de o Brasil ter um ambiente de paz, um ambiente de serenidade, um ambiente em que possamos garantir nessa forma de valorização da democracia, da Constituição, da lei, mas, principalmente, criar um ambiente de confiança, que permita a atração de investimentos, a geração de emprego e renda”, afirmou Wellington Dias (PT), governador do Piauí.

Na reunião, os governadores se mostraram preocupados com a movimentação de policiais militares bolsonaristas planejando se envolver com as pautas golpistas.

Em São Paulo, por exemplo, o chefe do Comando de Policiamento do Interior-7, coronel Aleksander Lacerda,  PM atuou nas redes sociais convocando para atos pró-Jair Bolsonaro pedindo “tanques nas ruas” no dia 7 de Setembro. Ele foi afastado nesta segunda-feira (23) pelo governador João Doria (PSDB).

“Creiam, isso pode acontecer no seu estado. Aqui nós temos a inteligência da Polícia Civil, que indica claramente o crescimento desse movimento autoritário para criar limitações e restrições, com empareda mento de governadores e prefeitos”, afirmou Doria no encontro.

“Estamos diante de um momento gravíssimo, com constantes ataques à liberdade e à Constituição. Não vamos nos silenciar diante das ameaças aos princípios constitucionais do país”, avaliou o tucano ao término da reunião.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PSB), por sua vez, também tratou da possibilidade de policiais se envolverem em uma intentona golpista.

“Preocupação geral com agressões e conflitos em série, que prejudicam a economia e afastam o país da agenda real: investimentos, empregos, vacinas etc. A democracia deve prevalecer e as polícias não serão usadas em golpes”, declarou o mandatário maranhense.