Caminhoneiros e empresários abandonam Bolsonaro e negam apoio a atos golpistas

Representantes dos dois segmentos reiteraram que suposta adesão em massa às manifestações de 7 de setembro é falsa. Participação seria restrita apenas a autônomos que não falam pelas entidades

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Os motoristas de caminhão que participarão dos atos golpistas convocados por Jair Bolsonaro para 7 de setembro, Dia da Independência, o farão sem apoio das entidades do setor e ainda assim, estariam divididos quanto à adesão às manifestações.

A informação foi dada por Wallace Landim, conhecido como Chorão, presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), numa entrevista nesta sexta-feira (3) à Folha de S.Paulo. Para o líder, a pauta das manifestações por ruptura institucional do presidente é desvinculada da agenda dos caminhoneiros.

"É totalmente político, é do Sérgio Reis, da Aprosoja, também do movimento intervencionista, mas a gente não participa de pauta política. Já tentaram nos usar em atos Fora Temer ou para intervenção militar... Quem se sentir prejudicado pode ir, mas como civil, essa é nossa orientação", afirmou Chorão.

Já o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer, afirmou que os atos têm uma interferência por parte de empresários e que tem viés antidemocrático.

"Há outras formas de resolver os problemas em vez de um movimento extremado, de alguém se julgar todo poderoso para fechar o Congresso, destituir ministros”, opinou Dahmer.

A maior parte da adesão, segundo caminhoneiros, é por parte de trabalhadores do Estado do Mato Grosso, onde a influência do agronegócio é muito grande. Esta é a avaliação do CNTRC (Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas), entidade que inclusive já convocou manifestações, como a ocorrida em julho deste ano. O CNTRC afirma que também não está participando dos preparativos e que não aderiu aos atos do Dia da Independência.

Grupos “compram” argumentos de Bolsonaro

Ainda que as reivindicações dos caminhoneiros estejam totalmente apartadas dos desígnios autoritários de Jair Bolsonaro, muitos dessa categoria “compram” as desculpas do presidente para justificar a grave crise econômica enfrentada pelo país, sobretudo no que diz respeito a atribuir culpa aos governadores e ao STF.

"O caminhoneiro é um sujeito de essência conservadora, de esquerda ou não. Reina o conservadorismo na linha caminhoneira autônoma. Isso vem de antes de Bolsonaro. E é um cara que não vota, ele pode criticar A e B porque ele não vota, ele está em trânsito", analisou Joelmis Correia, do Movimento Galera da Boleia da Normatização Pró-Caminhoneiro (GBN).

Racha entre empresários, especialmente em MG

Lideranças empresariais de Minas Gerais lançaram nesta quarta-feira (2), o Segundo Manifesto dos Mineiros ao Povo Brasileiro, que condena com veemência a falta de harmonia dos três poderes em Brasília e os ataques à democracia e rejeita a ruptura pelas armas.

O manifesto, inspirado no documento assinado por vários mineiros em 1943 questionando a ditadura do presidente Getúlio Vargas, conta com 212 assinaturas e foi lançado um dia depois de a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) lançar seu Manifesto pela Liberdade, com ataques ao Supremo Tribunal Federal e em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Vários sindicatos que integram a Câmara da Indústria de Comunicação e Audiovisual da entidade repudiaram o manifesto da Fiemg. O documento é assinado pelo Sindicato da Indústria do Audiovisual de Minas Gerais (Sindav-MG), pelo Brasil Audiovisual Independente (Bravi-MG), pelo Fórum dos Festivais e pela Agência de Desenvolvimento do Polo Audiovisual da Zona da Mata. “As entidades signatárias desta declaração não foram consultadas e sequer comunicadas a respeito do conteúdo do texto. Não concordamos com as ideias expressas no manifesto”, ressalta a nota de repúdio.

Bancos já abandonaram o barco

Em nota divulgada na noite desta quinta-feira (3), a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) resolveu sair das cordas.

No texto, a organização dos banqueiros endossou o manifesto “A Praça é dos Três Poderes”, anunciou racha com a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e, de quebra, tirou o álibi para que o governo Jair Bolsonaro retirar o Banco do Brasil e a Caixa do conglomerado.

“A FEBRABAN considera que o conteúdo do manifesto, aprovado por sua governança própria, foi amplamente divulgado pela mídia do país, cumprindo sua finalidade. A Federação manifesta respeito pela opção do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, que se posicionaram contrariamente à assinatura do manifesto”, diz o texto.