Bolsonaro arregou: Em carta, presidente elogia Alexandre de Moraes e pede paz no país

Na tentativa de resolver a crise que ele mesmo criou, Bolsonaro acata conselho de Michel Temer e publica nota no sentido contrário de tudo aquilo que pregou nos últimos meses

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Após o duro pronunciamento do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, em que indica cometimento de crime de responsabilidade de Jair Bolsonaro por afirmar que não vai cumprir decisões judiciais, o presidente recuou e divulgou uma nota em que chega a elogiar o Alexandre de Moraes, ministro que, há dois dias, ele chamou de "canalha".

No texto, Bolsonaro fala em "harmonia entre poderes" e prega pacificação no país. A iniciativa vem após um almoço com o ex-presidente Michel Temer, que teria o aconselhado a publicar um documento neste sentido.

Durante os atos bolsonaristas de 7 de setembro, o presidente afirmou que não cumpriria qualquer decisão judicial de Alexandre de Moraes e incitou o golpismo de seus apoiadores, que pretendiam, e muitos deles ainda pretendem, invadir o prédio do STF e destituir todos os ministros.

A reação de Fux afirmando que o presidente poderia cometer crime de responsabilidade caso, de fato, passasse a não cumprir decisões judiciais, gerou movimentações no Congresso Nacional, inclusive de partidos de direita, pela abertura de um dos mais de 130 pedidos de impeachment já protocolados.

Diante dessas reações, Bolsonaro, então, recuou e mudou o tom. "Quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum", escreveu.

O presidente chegou, inclusive, a citar as "qualidades como jurista e professor" de Alexandre de Moraes.

O recuou do presidente cai como um balde de água fria em uma parcela de seus apoiadores, principalmente alguns caminhoneiros, que seguem fazendo bloqueios e prometem manter a mobilização até ocorra a destituição de ministros do STF.

Confira abaixo a íntegra da nota de Bolsonaro.

"Declaração à Nação

No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:

1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.

2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.

3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.

4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.

5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.

6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal.

7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.

8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.

9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.

10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.

DEUS, PÁTRIA, FAMÍLIA

Jair Bolsonaro

Presidente da República federativa do Brasil"