Ocupação do Jacarezinho repete fórmula fracassada das UPPs, diz observatório de segurança

Especialistas apontam que o governador Cláudio Castro tenta instrumentalizar a segurança pública para fins eleitorais

Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro | Foto: Carlos Magno/Governo do RioCréditos: Carlos Magno
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A ocupação do Jacarezinho realizada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), nesta quarta-feira (19) tem despertado muitas críticas por repetir a fórmula fracassada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que foram implementadas em favelas do Rio nos últimos anos. A presença policial ostensiva começou sem a apresentação de um plano de segurança pública que detalhasse os objetivos da ação.

A Favela do Jacarezinho, na Zona Norte da capital carioca, amanheceu nesta quarta com um contingente de mais de mil policiais realizando uma ocupação como parte do programa Cidade Integrada, lançado por Castro em ano eleitoral. Apesar de anunciar que o projeto está sendo feito em parceria com a Prefeitura, o prefeito Eduardo Paes (PSD) negou que tenha havido qualquer diálogo.

Outras favelas começaram também a ser ocupadas pelo governador.

A Rede de Observatório de Segurança divulgou uma nota nesta quarta criticando o Cidade Integrada e lembrando que o Jacarezinho foi vítima da chacina mais letal da história do Rio há 8 meses.

"Cláudio Castro tenta usar a memória dos tempos dourados das UPPs, que na época garantiu a reeleição de Sérgio Cabral, para gerar capital político em ano de eleição. O uso da segurança pública para fins eleitorais é uma receita conhecida para o fracasso e para a violação de direitos da população de favelas", criticam.

"O governador quer ainda instalar câmeras de reconhecimento facial nas comunidades que comprovadamente não impactam nos índices de esclarecimentos de crimes, causam equívocos, aumentam o racismo policial e ainda promovem gastos altíssimos de recursos públicos. Os gastos em prevenção da violência tem que ser feitos em programas de alta qualidade de educação, assistência social, cultura, meio ambiente, urbanismo e saúde, sempre em diálogo com as prioridades dos moradores", sustentam.

"O Rio de Janeiro é um lugar que tem um acervo de erros muito grande em segurança pública e nós precisamos reconhece-los e não repeti-los.  A Rede de Observatórios da Segurança exige saber do governo do Estado do Rio de Janeiro quais são as diferenças do programa Cidade Integrada em relação às UPPs. No Rio, quando se trata de favelas e polícia parece que a história apenas se repete. Pelas notícias preocupantes divulgadas no dia de hoje, o projeto Cidade Integrada mais se parece com uma jogada eleitoral do que com um programa responsável de segurança", completa a nota.

A presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Dani Monteiro (PSOL), também criticou a operação. "A 108 dias de completarmos um ano de uma das maiores chacinas do Estado do Rio que deixou 29 mortos, no Jacarézinho, moradores temem novas violações dos direitos humanos no território. Isso porque o governador Cláudio Castro criou um programa de ocupação de favelas, SEM DIALOGAR com a favela e policiais do BOPE realizam um cerco na comunidade desde ontem", escreveu a deputada no Twitter.

"Manguinhos, Bandeira II e Conjunto Morar Carioca também foram cercadas. Em ano eleitoral sabemos que a pauta de segurança pública é o alvo principal dos candidatos sob uma ótica perversa e genocida: violência contra a população negra e periférica. Seguimos monitorando e em contato com as lideranças das regiões", completou Dani Monteiro.

Confira aqui a nota na íntegra