“Fascismo de hoje é turbinado pelas tecnologias digitais”, diz Marcia Tiburi

Em entrevista ao “Fórum Onze e Meia”, a professora de Filosofia, que atualmente mora na França, falou sobre a censura imposta a ela pelo Instagram: “Não seremos banidos do mundo digital”

Foto: Reprodução/YouTube Fórum
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A filósofa e professora Marcia Tiburi, atualmente morando na França, declarou que estuda o fascismo há anos e que, inclusive, seus últimos quatro livros abordam o tema e seus desdobramentos no Brasil. Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, nesta terça-feira (4), ela afirmou que o “fascismo hoje é turbinado pelas tecnologias digitais”.

Marcia analisou a censura imposta a ela pelo Instagram, quando daria início, no primeiro dia do ano, ao ciclo de debates, cujo tema seria justamente Jair Bolsonaro e o fascismo.

“Não recebi nenhuma explicação do Instagram. Imagino que talvez seja porque, durante o mês de dezembro, passei a denunciar e bloquear muitos ataques pesados, ameaças violentas e ofensas que tenho recebido nas redes sociais. Na hora em que começaria a live surgiu uma mensagem dizendo que eu teria 'ferido as regras da comunidade' e que estaria proibida de fazer lives”, explicou.

Depois do que ela chamou de “castigo escolar”, Marcia gravou uma série de vídeos, tentando resumir os conteúdos que seriam apresentados na live, como “ato de resistência, pois tentaram calar minha boca”.

Ela acredita que os ataques e ameaças são apenas o começo do que ela e outros intelectuais podem sofrer em 2022, por ser um ano eleitoral.

“Esses sujeitos precisam de alvos. Por isso, professores de filosofia que se expõem nesse nível sofrem esse tipo de assédio. Acredito que mais professores deveriam deixar de se esconder, inclusive de extrema esquerda, que são canalhas covardes e intelectuais ornamentais. Esses não recebem a pancadaria que recebo”, afirmou.

Marcia apontou, ainda, que é preciso ocupar o espaço público para responder à guerra cultural promovida pelo fascismo. “O Bolsonaro e o Olavo de Carvalho são bons nisso. Eles ficaram ‘bostificando’ a mentalidade de muitos brasileiros”.

“Não pretendo me candidatar”, afirma a filósofa

Em relação à política partidária, a filósofa declarou que não pretende se candidatar a nenhum cargo público. Ela disputou o governo do Rio de Janeiro em 2018.

“Naquele momento, o virtual candidato do PT era o ex-ministro Celso Amorim, mas ele acabou desistindo. Eu só fui candidata porque o PSOL não quis o apoio do PT”, lembrou.

Ela classificou como ótima a candidatura do deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ) ao governo do Rio, nas eleições de 2022. “Agora que ele saiu do PSOL, que é um partido pequeno e que usou táticas bizarras em 2018. A política partidária é bizarra e assustadora”, acrescentou Marcia.

“Bolsonaro não existiria sem o Jean Wyllys”, destaca Marcia

Ela ressaltou, também, que outro motivo que a leva não se candidatar é o fato de que os personagens ligados à extrema direita se aproveitam da exposição de pessoas de esquerda.

“Esses canalhas vivem tentando me usar. O Bolsonaro não existiria sem o Jean Wyllys”, exemplificou. “Tenho mais vocação para ajudar, principalmente apoiando mulheres feministas, do que para me candidatar”, resumiu.

Esses ataques e ameaças fizeram com que muitos professores deixassem o Brasil. Marcia, autoexilada na França, onde dá aulas, relembrou os casos do ex-deputado Jean Wyllys e da antropóloga Debora Diniz, que hoje moram no exterior.

“Fomos banidos fisicamente do país. Esses ataques nas redes querem nosso banimento digital. Por isso, é cada vez mais importante nossa luta na internet, até mais importante do que nas trincheiras físicas. Não seremos banidos do mundo digital”, completou Marcia.

Assista à entrevista completa:

https://www.youtube.com/watch?v=pPZ1ua25kQI