Guido Mantega: “retomada econômica só virá com fim do governo Bolsonaro”

“O que está em jogo nas próximas eleições é se continuaremos com a política econômica desastrosa de Bolsonaro ou se vamos retomar a via do social-desenvolvimentismo rumo ao Estado de bem-estar social”, diz o ex-ministro

Guido Mantega. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Guido Mantega, ex-ministro dos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, afirmou em artigo publicado na Folha nesta terça-feira (4) que a retomada econômica do Brasil só virá a partir do fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, segundo ele, é “um dos piores governos da história republicana brasileira”.

O ex-ministro lembra que “a economia brasileira terminou 2021 estagnada e vai continuar assim por todo o ano de 2022. De acordo com a pesquisa Focus do Banco Central (03/01/22), o crescimento do PIB de 2022 não deve passar de 0,36%”.

Ele afirma que “com esse crescimento pífio, o desemprego permanecerá alto e deverá repetir, em 2020, os 12% de 2021, enquanto a inflação estará recuando dos 10% de 2021, para algo em torno de 6%, às custas de uma feroz política monetária contracionista, que vai paralisar a economia brasileira”.

Guido diz ainda que a fome e a pobreza vão continuar a aumentar, o auxílio de R$ 400 será insuficiente e, para agravar a situação, há um novo avanço na pandemia do coronavírus e de novas gripes, “que podem reduzir o crescimento dos países ricos, afetando diretamente as exportações brasileiras”.

Pibinho

O ex-ministro diz que “entre 2019 e 2022 o PIB brasileiro terá um crescimento médio de 0,5% ao ano. Um pouco melhor do que o decréscimo médio de -0,13% ao ano do governo Temer, entre 2016 e 2018”.

Somado a isso, ele lembra que “em vez de colocar o Estado em campo para socorrer as vítimas da crise e estimular a retomada do investimento, como fizeram os países do G20, o governo Bolsonaro reduziu o auxílio emergencial de 2020 para 2021, e vem diminuindo o investimento público desde o início do seu governo”.

Para Mantega, a postura de Paulo Guedes, o ministro da Economia de Bolsonaro, contrasta com a dos governos Lula e Dilma:

“Entre 2003 e 2014 o PIB brasileiro teve um crescimento médio de 3,5% ao ano, enquanto o desemprego caiu para abaixo de 6% da população economicamente ativa. No final de 2014 o Brasil era um país pouco endividado, com uma dívida pública líquida igual a 32,5% do PIB, enquanto o Banco Central acumulava reservas de US$ 374 bilhões. Não à toa, a partir de 2008 o Brasil passou a receber avaliações positivas de grau de investimento, pelas principais empresas de classificação de risco”, lembra.

Ele aponta ainda que “a pobreza caiu de 26,7%, em 2002, para 8,4%, em 2014. Pela primeira vez, em 500 anos, a renda dos mais pobres cresceu mais do que a dos mais ricos e a desigualdade diminuiu no país. Foi assim que o Brasil saiu do mapa da fome e tornou-se o sexto maior PIB (Produto Interno Bruto) do mundo, em 2011”.

Saída fácil

O ex-ministro aponta que não há saída fácil, mas dá a receita:  

“As forças democráticas deverão elaborar um programa de desenvolvimento econômico e social para a reconstrução do país”. Para ele, “esse programa deverá conter medidas emergenciais de combate à fome e à miséria, que propiciem condições de sobrevivência da população mais pobre”.

Além disso, “o governo deve coordenar um ambicioso plano de investimentos públicos e privados, de modo a ampliar a infraestrutura e aumentar a produtividade, gerando muitos empregos”.

Mantega também quer uma reforma tributária “que simplifique os impostos federais, estaduais e municipais. É importante também diminuir a taxação dos mais pobres, aumentando os tributos sobre a renda e patrimônio dos 1% mais ricos, de modo a reverter a regressividade da estrutura tributária brasileira”.

Ao final, ele reafirma: “o que está em jogo nas próximas eleições é se continuaremos com a política econômica desastrosa do governo Bolsonaro e de outros candidatos neoliberais, ou se vamos retomar a via do social-desenvolvimentismo rumo ao Estado de bem-estar social”.

Com informações da Folha