ELEIÇÕES 2022

Paraisópolis: “Pessoa desarmada foi assassinada para se criar factoide político”, diz advogado

Ariel de Castro Alves defende a tese que o jovem Felipe Silva de Lima foi executado e diz que polícia já poderia ter pedido prisão preventiva dos envolvidos

Local onde Felipe foi baleado.Créditos: Reprodução/GloboNews
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Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta sexta-feira (28), o advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e especialista em direitos humanos, defendeu a tese que Felipe Silva de Lima, de 27 anos, foi assassinado “para se criar um factoide político”.

O crime ocorreu durante visita do candidato bolsonarista ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), à comunidade de Paraisópolis, no dia 17 de outubro. Inicialmente, aliados de Jair Bolsonaro (PL) tentaram criar a tese de que os tiros que ocorreram no local representavam um atentado contra Tarcísio.

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“Na verdade, já foi desmascarada a tese de atentado. Uma verdadeira farsa que ali foi montada. Nós temos vários elementos, inclusive com depoimentos de testemunhas, que reforçam a tese que nós, inicialmente, lançamos, questionando a Ouvidora da polícia, as autoridades de segurança pública de São Paulo, sobre uma execução, que teria a finalidade de gerar um possível confronto na localidade”, afirmou Ariel.

“O que existe hoje é essa principal possibilidade, dos agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), aqueles policiais da escolta do candidato Tarcísio, terem ido a Paraisópolis planejando atacar alguém da comunidade e, depois, gerar um possível confronto com criminosos. Até agora, não houve comprovação de qualquer confronto. O que nós temos, sim, é um corpo, que ficou estendido no chão desarmado”, ressaltou o advogado.

Ele destacou, ainda, que “nós tínhamos o Felipe e o Rafael, dois jovens curiosos, que passaram de moto, o que é comum numa comunidade, viram uma comitiva grande, vários carros, um número grande de pessoas estranhas à comunidade, e foram ver do que se tratava. Um deles estava com o celular na moto. Mas nenhum deles armado”.

“Depois, esse jovem foi executado por um policial militar, provavelmente, que fez cursos da Abin. A própria polícia de São Paulo confirmou que nenhuma arma foi encontrada com o Felipe, que foi baleado. O que tem mais forte hoje seria essa tese: executar alguém da comunidade para tentar gerar um confronto e, depois, ter essa versão de que o candidato estaria sofrendo um atentado”, relatou Ariel.

Ele disse, também, que há fatos que fortalecem a tese: “A questão do cinegrafista ter sido pressionado e ameaçado pelo braço direito do candidato Tarcísio, por um agente da Abin. Ele mandou apagar as imagens, pressionou, ameaçou de demissão. O cinegrafista já tinha encaminhado as imagens para a emissora (Jovem Pan), mas depois ainda continuou sendo constrangido”.

“Por isso, ele acabou pedindo demissão e, agora, se sente ameaçado. Ele e a família estão com medo e precisam de proteção. O cinegrafista foi muito corajoso ao ter gravado aquela conversa. Ele viu que tinha algo estranho e foi pressionado a apagar as imagens, o que configura um atentado à liberdade de imprensa. Se o candidato faz isso antes de se eleger, imagina depois que se eleger, como vai ser o tratamento dispensado à imprensa e às entidades de direitos humanos”, avaliou Ariel.

Local do crime não foi preservado

Outra irregularidade levantada pelo advogado é que o local do crime não foi preservado. Ele defendeu a prisão dos envolvidos. “A Corregedoria da Polícia Militar já poderia ter pedido prisão administrativa à Justiça Militar a quem eliminou provas de forma intencional, do PM que diz que intencionalmente não preservou o local. A Polícia Civil também poderia, no meio do inquérito, pedir prisão preventiva dos policiais envolvidos nessa execução. Homicídio é um dos crimes mais graves da legislação brasileira. Uma pessoa desarmada foi assassinada, com a finalidade de se criar um factoide político”.

Mesmo assim, Ariel apontou problemas em relação às apurações. “Nós temos muitos crimes que precisam ser investigados, inclusive eleitoral. O problema é que temos dificuldades em crer na atuação da Polícia Civil de São Paulo, por conta do apoio do Rodrigo Garcia (atual governador) ao candidato Tarcísio. A cúpula da Polícia Civil é totalmente vinculada ao Rodrigo Garcia e, claro, existe uma tendência de apoio maior dessa cúpula ao candidato Tarcísio e ao bolsonarismo também. Falta transparência nessas apurações”, acrescentou.

Assista à íntegra da entrevista:

 

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