Na coordenação do núcleo evangélico do PT, o pastor Luis Sabanay vê a transição na presidência da bancada evangélica na Câmara, assumida pelo deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), como prenúncio das mudanças que vão acontecer entre os parlamentares da frente no ano eleitoral de 2022.
Cavalcante assumiu a frente parlamentar rachada pelo seu padrinho Silas Malafaia e em meio a um motim dos Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo, que querem se descolar de Bolsonaro de olho nos votos nas regiões.
No Nordeste e em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, a relação com Bolsonaro é um fator que pode influenciar negativamente na eleição desses parlamentares - que em muitos casos querem associar a imagem à neutralidade e podem acabar em "santinhos" com fotos ao lado de Lula.
"A opinião da massa vai influenciar no comportamento e opções políticas dos dirigentes religiosos, principalmente, da massa pentecostal e neopentecostal. Não se surpreenda com a mudança de comportamento político da bancada evangélica, no centrão, dissociando-se de Bolsonaro nas eleições deste ano. A política fisiologista move-se pela opinião pública, valendo, repito, para as lideranças religiosas e para os mandatários", disse Sabanay à Fórum.
Citando dados da pesquisa PoderData, o pastor ressalta que os impactos da economia fragilizada, como desemprego e inflação, estão sendo sentidos por todos, incluindo a comunidade evangélica, que tem rejeitado cada vez mais o governo Jair Bolsonaro (PL).
"A rejeição do governo bolsonaro, chega a quase 41% entre os evangélicos entre 53% no público geral. Isso reflete o que? Que a vida do povo evangélico não se desassocia a vida do povo geral. Os problemas sociais que, visivelmente, impactam o cotidiano da vida da população: Os impactos da pandemia, o desemprego, o custo de vida, a pobreza, a volta da fome e ausência de políticas causados pelo governo bolsonaro, além, de outras questões. Mostra de forma nítida a rejeição. O mais significativo, é: Lula e Bolsonaro estão praticamente empatados na pesquisa no público evangélico, desentoando da tendencia de 2018. Além, entre os evangélicos, que reconhecem que o governo lula foi melhor do que é hoje", analisa.
Bancada é disputa pelo poder e não representa evangélicos
Para Sabanay, o "jogo interno do poder" na bancada evangélica é mais influenciado pelo comportamento dos fiéis do que o contrário e que os principais atores - ligados a pastores midiáticos como Malafaia - não representam a maioria.
"É a disputa de protagonismo mais do que força política na base real deste segmento. Porque digo isso, o mundo evangélico de modo geral e as Assembleias de Deus não é um bloco unitário. AD que, o atual líder da bancada evangélica representa é uma das últimas dissidências e a menor delas em população. Isso sinaliza, a grosso modo que, a bancada evangélica atual não representa o conjunto do segmento evangélico, na base principalmente, é sabido que não, muito menos, a representação majoritária dos interesses do conjunto da maior igreja pentecostal do nosso país", diz.
Segundo Sabanay, a disputa será na força do voto, em u"ma briga das frações evangélicas, entre si, pela hegemonia da representatividade nas próximas eleições".
No entando, os líderes locais tendem a influencias mair do que o direcionamento dos políticos.
"A pregunta que eu imagino é: O deputado(a) evangélico é de qual denominação mesmo? Se não for da minha, não terá meu voto. Então, diferente, do que diz o atual líder da bancada evangélica, o que pode ocorrer é: a fidelização por segmento denominacional e não por que é evangélico genérico".
Para ele, a tese de Cavalcante, de que 90% da bancada estará com Bolsonaro, tende a evaporar a medida que as pesquisas sigam mostrando o derretimento do apoio popular ao atual presidente.
"Sabemos a diferença entre as disputas majoritárias e proporcionais, mas, como eu disse acima, destoar da maioria da opinião pública terá efeitos eleitorais. Ainda, podemos considerar que, a atual bancada tem uma estratégia para sua reeleição, mas as igrejas denominacionais poderão ter outra, para aumentar o seu grau de influência", diz.
Para Sabanay, "a pergunta que fica é: a bancada evangélica será reeleita ou renovada?", indaga. "Nem entro no caso das demais tradições religiosas", emenda.