Bolsonaro mente em discurso de abertura do ano legislativo: "Salvamos vidas"

Presidente mentiu tanto que chegou a dizer que a política externa brasileira está proporcionando "uma melhor inserção do Brasil nos fluxos globais"

Jair Bolsonaro na cerimônia de abertura do ano legislativo no Congresso Nacional (Foto: Nilson Bastian /Câmara dos Deputados)
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Em discurso na sessão solene de abertura do ano legislativo no Congresso Nacional, nesta quarta-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro (PL) usou seu discurso para mentir. Segundo o chefe do Executivo, o governo federal, ao longo da pandemia, "não se afastou das premissas de salvar vidas e proteger empregos, além do olhar voltado aos mais necessitados".

É de conhecimento público, porém, que Jair Bolsonaro sempre minimizou a pandemia e desestimulou o respeito às medidas sanitárias, bem como atrasou a aquisição de vacinas. A fala de Bolsonaro sobre "proteger empregos" também é facilmente desconstruída, visto que, segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em dezembro do ano passado, quase 30% dos cerca de 13,5 milhões de desempregados do país estavam em busca de uma vaga havia mais de dois anos. É o maior porcentual em toda a série histórica, desde 2012.

O presidente, no entanto, não se furtou em seguir mentindo. Ainda sobre a pandemia, Bolsonaro afirmou que o governo federal foi o responsável por distribuir todas as vacinas aplicadas no país, e aproveitou para encampar seu discurso antivacina ao reforçar que a aplicação das doses "não é obrigatória". Conforme mostrado pela Fórum, no entanto, a não vacinação de crianças, por exemplo, pode implicar em uma série de sanções aos pais ou responsáveis.

Entre falas tentando enaltecer sua administração, citando o marco legal das ferrovias, a criação do Auxílio Brasil, o 5G e outros temas, Bolsonaro ainda mentiu sobre a visão externa do Brasil. O presidente, que passou vergonha na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) no ano passado, está cada vez mais isolado na comunidade internacional e investidores estrangeiros já estão animados com um possível novo governo de Lula (PT). Bolsonaro, no entanto, disse que segue "atuando na melhor inserção do Brasil nos fluxos globais".

Discurso eleitoreiro

Ao final de seu discurso, Bolsonaro aproveitou para, indiretamente, provocar o ex-presidente Lula (PT) e inflamar seus apoiadores, em uma fala claramente eleitoreira. Com tom de voz mais elevado, declarou que o parlamento nunca o verá pedindo "regulação da mídia e internet", pautas defendidas pelo ex-presidente petista.

"A nossa liberdade acima de tudo", disparou, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se articula para impedir irregularidades e fake news em mídias sociais durante a campanha eleitoral.

Bolsonaro chegou ao Congresso Nacional de máscara e só a tirou para discursar. Na mesa diretora da cerimônia, estiveram também presentes os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), além do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. O procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, era esperado, mas não compareceu pois testou positivo para a Covid-19.