Bolsonaro aproveita polêmica de Monark sobre nazismo para pedir criminalização do comunismo

Em nota, o presidente Jair Bolsonaro pareceu mais preocupado em atacar o comunismo do que condenar o nazismo; o histórico do mandatário aponta laços com grupos neonazistas

Jair Bolsonaro com deputada neonazista Beatrix von Storch e com Marco Antônio Santos, "sósia" de Hitler | Montagem (Fotos: Presidência da República e Redes Sociais)
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O presidente Jair Bolsonaro (PL), que já posou em foto ao lado de um "sósia" de Adolf Hitler em 2015 e recebeu uma deputada neonazista no Palácio do Planalto em 2021, usou as redes sociais nesta quarta-feira (9) para se manifestar sobre a condenável declaração do apresentador Bruno Aiub, o Monark, sobre a legalização de um partido nazista no Brasil. Monark é investigado por possível crime de apologia ao nazismo.

Bolsonaro quebrou o silêncio nesta quarta e aproveitou a polêmica envolvendo o apresentador para fazer uma falsa equivalência e defender a criminalização do comunismo.

"A ideologia nazista deve ser repudiada de forma irrestrita e permanente, sem ressalvas que permitam seu florescimento, assim como toda e QUALQUER ideologia totalitária que coloque em risco os direitos fundamentais dos povos e dos indivíduos, como o direito à vida e à liberdade", disse o presidente no Twitter.

"É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o Comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis", prosseguiu Bolsonaro.

Ao invés de se limitar à condenar o nazismo, o mandatário decidiu atacar o comunismo, o que expressa que a real intenção dele não é a de criticar a fala de Monark, mas tentar criar um fato político em cima disso.

Dado o histórico - anterior e recente - do presidente, Bolsonaro não parece estar tão distante assim de ideologias nazifascistas, em especial do neonazismo.

Em julho de 2021, Bolsonaro recebeu, no Palácio do Planalto, a neonazista alemã Beatrix von Storch, neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler (Johann Ludwig Schwerin von Krosigk) e filiada ao partido ultradireitista AfD (Alternativa para a Alemanha).

“Governo Bolsonaro tem fortes inclinações nazistas e fascistas”, diz manifesto de judeus

Um manifesto assinado por 260 judeus em maio de 2021 associa o governo de Bolsonaro com o nazismo alemão e o fascismo italiano e afirma que “é preciso chamar as coisas pelo nome”. “É perceptível que o governo encabeçado por Jair Bolsonaro tem fortes inclinações nazistas e fascistas”, apontam.

Desde a campanha eleitoral, o Jair Bolsonaro já demonstrava traços de inspiração no nazifascismo. Em seu governo, alguns ministros e secretários expuseram claramente uma aproximação com o ideário neonazista e alguns episódios reforçaram isso.

Carta aos neonazistas

A antropóloga e pesquisadora da PUC de Campinas Adriana Dias, que há anos rastreia pela internet grupos extremistas de ultradireita que atuam no Brasil, encontrou uma carta do então deputado federal Jair Bolsonaro, datada de 2004, dirigida a neonazistas de um site que propagavam tal ideologia, retirado do ar em 2006: o Econac.

Dias entende que a forma como Bolsonaro se dirige aos neonazistas é reveladora, mas o ponto principal é o engajamento do grupo com o deputado. “Na verdade, o teor do documento (carta) não é o mais importante. O mais importante nessa carta é que ele diz que essas pessoas são a razão do mandato dele e essa carta só foi publicada em sites neonazistas e em nenhum outro canto”, disse à Fórum.

O “sósia” de Hitler

Em 2015, Bolsonaro apareceu em foto ao lado de um “sósia” de Hitler após audiência pública na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro convocada para debater o projeto Escola Sem Partido, defendido pelo ex-capitão. Por decisão da Comissão de Educação da Câmara, Marco Antônio Santos, o “Hitler”, foi impedido de falar por estar trajado igual ao ditador nazista, mas isso não o impediu de posar ao lado do hoje presidente da República.

Além da foto, Santos se filiou ao PSC em 2016 – partido que, na época, abrigava Jair Bolsonaro e seu clã – para concorrer à vereança e chegou a receber doações do hoje senador Flávio Bolsonaro – que concorreu à Prefeitura da capital carioca na ocasião.

Bolsonaro já foi classificado como “Hitler de Brasília”

Durante as eleições, o então candidato foi qualificado como “Hitler de Brasília” por um articulista em jornal de Israel. “Hitler em Brasília – Os evangélicos dos EUA e a teoria política nazista que estão por trás do candidato à Presidência do Brasil”, dizia o título do texto.

Thilo F. Papacek, professor alemão e doutor em Históra pela Universidade Livre de Berlim, conversou com a Fórum sobre as declarações e analisou que o discurso do presidente brasileiro tinha muitas semelhanças com o discurso dos partidários de Hitler. “Esse discurso de Bolsonaro de ‘limpar o país’ e ‘fazer exorcismo’ contra a esquerda, sim, chega até aqui. E esse tipo de discurso existia no governo da Alemanha também, entre os anos de 1933 a 1945 [período do goveno nazista de Hitler]. Nesse sentido, Bolsonaro é muito mais semelhante aos nazis”, declarou.

https://twitter.com/jairbolsonaro/status/1491551518998335498
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