POLÍTICA

Adriano da Nóbrega: Polícia Civil do RJ omitiu menção ao Planalto em escutas telefônicas

Em áudio, irmã do miliciano revela que o Palácio do Planalto ofereceu cargos pela morte do ex-PM

Caso Adriano: Polícia Civil do RJ omitiu menção ao Planalto em escutas telefônicas.Créditos: Reprodução Youtube
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A Polícia Civil do Rio de Janeiro omitiu do relatório sobre as escutas telefônicas da Operação Gárgula a menção ao Palácio do Planalto feita pela irmã do ex-PM e miliciano Adriano da Nóbrega, morto em fevereiro de 2020. 

A conversa entre Daniela da Nóbrega, irmã do ex-PM e miliciano Adriano, e uma tia é classificada como de prioridade alta. Contudo, apenas um resumo do diálogo entre Tatiana, outra irmã de Adriano, e a tia ocorrido na mesma ligação é descrito no documento. 

Em áudio revelado pela Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (6), Daniela afirma a uma tia, dois dias depois que Adriano da Nóbrega foi morto durante uma operação policial na Bahia, que ele soube de uma reunião envolvendo seu nome no Palácio do Planalto e do desejo que se tornasse um "arquivo morto". 

"Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", disse Daniela, irmã de Adriano da Nóbrega, na gravação autorizada pela Justiça. 

Até este momento, o Palácio do Planalto e a defesa de Daniela não se pronunciaram sobre o conteúdo das escutas. A Polícia Civil também não comentou o caso. 

A conversa de 6 minutos e 51 segundos ocorreu no dia 11 de fevereiro de 2020 por meio do telefone de Tatiana, alvo de escutas. 

No relatório da polícia enviado para o Ministério Público do Rio de Janeiro, responsável por conduzir a Operação Gárgula, menciona que o arquivo contém uma conversa entre Daniela e a tia, por meio do aparelho da irmã. 

No entanto, o resumo descrito tem apenas os trechos da parte em que Tatiana conversa com a tia, relatados em três fases. 

O relatório descreve as acusações da irmã de Adriano contra o Tribunal de Justiça e que um bicheiro pagou pela absolvição de seu irmão num processo em que era acusado de ter matado um flanelinha durante uma operação policial. Mas, na gravação não há referência ao nome do magistrado.  

Os resumos das transcrições, realizados pela Subsecretaria de inteligência da Polícia Civil, servem para descrever aos responsáveis pela investigação as partes mais relevantes das conversas. Ele serve de orientação para os rumos da investigação e dados que devem ser aprofundados. 

Muitas vezes os promotores ou delegados sequer ouvem a íntegra das escutas e muitas vezes usam os resumos feito pelos agentes da polícia. Geralmente, apenas as ligações com relação direta com o crime apurado é que são escutadas na íntegra. 

A Operação Gárgula teve por objetivo apurar a lavagem de dinheiro de Adriano da Nóbrega e a estrutura para escondê-lo até fevereiro de 2020, quando foi morto após mais de um ano foragido sob acusação de comandar a maior milícia do Rio de Janeiro.

Adriano da Nóbrega também era suspeito de envolvimento no esquema das "rachadinhas" no gabinete do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). 


Queima de arquivo? 

Um áudio divulgado nesta quarta-feira (6) pela Folha de S.Paulo mostra a irmã de Adriano da Nóbrega acusando o Palácio do Planalto de oferecer cargo pelo assassinato do ex-capitão do Bope que integrava o Esquadrão da Morte - grupo armado da milícia de Rio das Pedras.

No áudio, Daniela Magalhães da Nóbrega chora ao dizer para uma tia que o irmão, que chegou a ser homenageado pelo clã Bolsonaro e teve a esposa empregada no esquema de rachadinha comandado por Fabrício Queiroz no gabinete de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), "já era um arquivo morto".

"Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", afirmou Daniela, revelando um possível conluio acertado por Bolsonaro para assassinar o ex-capitão do Bope.

A gravação foi captada em uma escuta telefônica pela Polícia Civil do Rio de Janeiro há cerca de dois anos. A ligação aconteceu dois dias após a morte de Adriano em uma operação policial na Bahia, onde ele estava foragido.
 

Ouça o áudio na íntegra: