DE MÃOS DADAS COM A BANDIDAGEM

Entenda a relação do bolsonarismo com crimes ambientais e perseguição a ambientalistas

Como e por que o governo de Jair Bolsonaro tornou-se o paraíso para grupos criminosos e toda sorte de bandidos ligados ao desmatamento, grilagem, garimpo ilegal e invasão de terras indígenas?

Militares em área desmatada da Amazônia..Créditos: Agência Brasil
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Desde o desaparecimento do jornalista britânico Dom Philips e do indianista Bruno Pereira, no coração da selva amazônica, no Vale do Javari (AM), no último dia 5, muito tem se falado de como ações criminosas contra o meio ambiente e contra ambientalistas, protagonizadas por vários grupos diferentes, cresceram durante o governo de Jair Bolsonaro e, sobretudo, como a gestão do radical de extrema-direita tem colaborado e se envolvido com esses bandos e suas pautas fora da lei.

No caso do garimpo ilegal, uma atividade altamente danosa à natureza e que mantém estreita conexão com o crime organizado, o flerte de Bolsonaro é público e notório, e ele ainda justifica que o fato de seu pai ter sido garimpeiro é algo que o faz “apoiar” a prática, embora garanta que não o faz só por isso.

“Não é justo, hoje, querer criminalizar o garimpeiro no Brasil. Não é porque meu pai garimpou por um tempo. Nada a ver”, disse em 2020.

No mesmo ano, um crescimento de 30% no garimpo ilegal foi registrado apenas na Terra Indígena Yanomami, enquanto que em 2021 esse aumento na mesma área foi de 46%, com mais de uma centena de indígenas da reserva assassinados por motivos relacionados à garimpagem criminosa, de acordo com dados da Hutukara Associação Yanomami

Jair Bolsonaro sempre falou dos indígenas e de seus direitos com desprezo. No entanto, sua sanha destruidora é costumeiramente direcionada especificamente aos Yanomamis, que ocupam um território imenso de 10 milhões de hectares nos estados do Amazonas e de Roraima, com 28 mil indivíduos no perímetro.

Em novembro de 2020 o presidente falou abertamente contra a existência da terra indígena, uma postura praticamente sem precedentes no mundo, uma vez que todos os chefes de Estado e de governo mundiais endossam os mecanismos de preservação de povos originários e de ecossistemas.

“A reserva Yanomami. Tem mais ou menos 10 mil índios. O tamanho é duas vezes o Estado do Rio de Janeiro. Justifica isso? Lá é uma das terras com o subsolo mais rico do mundo. Ninguém vai demarcar terra com subsolo pobre. Agora o que o mundo vê na Amazônia, floresta? Está de olho no que está debaixo da terra”, disse Bolsonaro, indignado.

Sua visão obtusa e completamente sem fundamento científico sobre o tema faz com que o presidente da República, irremediavelmente, dê “opiniões” grotescas, alimentando os movimentos que ameaçam esses grupos étnicos e a natureza. Um exemplo do arsenal de bobagens foi o discurso realizado em 2021 no 5º Pelotão de Fronteira do Exército, que fica dentro da Terra Indígena Yanomami, na região da Comunidade Maturacá, no qual Bolsonaro disse que “tem outros irmãos índios, em outros locais, dentro e fora da Amazônia, que desejam minerar terra, que desejam cultivar terra, e nós vamos respeitar esse direito deles".

Para quem não lembra, uma operação contra o garimpo ilegal realizada pela Polícia Federal na Terra Indígena Yanomami, em maio de 2021, resultou em seis incidentes de garimpeiros disparando tiros contra agentes da PF, algo inédito e impensável nesse tipo de ocorrência. Defensor de primeira hora da polícia (e até de seus abusos e crimes), Jair Bolsonaro viu agentes federais serem enxotados a bala por criminosos, dentro de um território demarcado, e não disse uma só palavra de solidariedade ao seu grupo de trabalhadores preferido.

Poucos dias antes, dez altos funcionários do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) foram afastados de suas funções em decorrência de investigações iniciadas pela Polícia Federal, amparada por ordens judiciais expedidas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, numa operação batizada de Akuanduba. Todos, segundo as autoridades, eram suspeitos de "esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais". Por mais inacreditável que possa parecer, o próprio ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, era apontado com envolvido nos crimes. Ele entrou no radar das autoridades após a Embaixada dos EUA no Brasil encaminhar denúncias aos governos norte-americano e brasileiro. À época, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos, órgão similar ao Ibama, disse ter “preocupações com relação a possíveis ações inadequadas ou comportamento corrupto de funcionários públicos responsáveis pelos processos legais e sustentáveis que governam a extração e exportação de produtos de madeira da região amazônica”.