ELEIÇÕES 2022

Marília Arraes: "O povo do presidente Lula está comigo"

Quase três meses após deixar o PT para se lançar candidata ao governo de Pernambuco pelo Solidariedade, Marília Arraes diz que sentimento é de "dever cumprido". Deputada lidera disputa ao governo do Estado.

Marília Arraes e o L, de Lula.Créditos: Divulgação
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Aos 38 anos, líder nas pesquisas de intenção de votos ao governo de Pernambuco e primeira candidata a compor a chapa - com o deputado federal Sebastião Oliveira (Avante) como vice -, Marília Arraes afirma em entrevista exclusiva à Fórum que tem a sensação de "missão cumprida", quase três meses após deixar o PT rumo ao Solidariedade, partido pela qual lançou sua candidatura.

"O PT é um dos partidos mais importantes do nosso país. Foi fundamental para o processo de redemocratização, do combate à fome, da geração de emprego e renda, por eleger Lula, o melhor presidente da nossa história, e por colocar no debate as pessoas que sempre foram esquecidas, negligenciadas. [...]  Eu sempre tive lado e estive junto ao PT nos bons momentos e nos ruins, ao contrário de pessoas que só surfam na boa onda e nos piores momentos abandonam ao barco. Meu sentimento, portanto, é de missão cumprida", afirma.

Neta de Miguel Arraes, figura histórica do PSB, partido onde iniciou sua carreira política e hoje abriga Geraldo Alckmin, candidato a vice de Lula, e Danilo Cabral, seu adversário na disputa ao governo do Estado com o apoio do PT - o que foi definitivo para sua saída da sigla -, Marília diz que hoje a legenda a qual o avô fez sua trajetória política não encontra significado na letra S, de Socialismo.

"Miguel Arraes foi um dos principais governadores da história do nosso estado e, assim como Lula, foi um dos principais defensores do nosso povo. O PSB de Arraes, no entanto, é completamente diferente do PSB que está aí. A letra "s" representa qualquer outra coisa menos a palavra socialista", diz.

Nutrindo antigos sonhos que levaram o clã à política e com uma bandeira forte junto às mulheres, Marília diz que segue ligada à "militância" petista no Estado que, segundo ela, ainda vê sua imagem colada a de Lula, seu candidato à presidência desde o primeiro voto.

"O povo do presidente Lula está comigo. Sabe que Marília é Lula e Lula é Marília", diz a deputada.

Leia a entrevista na íntegra.

Fórum: Passados pouco mais de dois meses de sua saída do PT, como se sente? Qual o sentimento predominante: liberdade, mágoa ou arrependimento?

Marília Arraes - O PT é um dos partidos mais importantes do nosso país. Foi fundamental para o processo de redemocratização, do combate à fome, da geração de emprego e renda, por eleger Lula, o melhor presidente da nossa história, e por colocar no debate as pessoas que sempre foram esquecidas, negligenciadas. Foi pelo PT que me elegi pela terceira vez vereadora do Recife, deputada federal e também disputei a Prefeitura do Recife e me tornei a primeira mulher da história a ir para o segundo turno numa eleição majoritária municipal na capital. Foi também no PT que estive, ao lado do presidente Lula, no momento mais difícil da sua história política e no momento de maior perseguição ao partido. Eu sempre tive lado e estive junto ao PT nos bons momentos e nos ruins, ao contrário de pessoas que só surfam na boa onda e nos piores momentos abandonam ao barco. Meu sentimento, portanto, é de missão cumprida.   


Fórum: Você iniciou sua carreira no PSB e vem da linhagem Arraes, família tradicional na política pernambucana e nacional. Como se vê hoje antagonizando com os dois principais partidos de sua história? E como está no Solidariedade?

Marília Arraes - Eu tenho muita responsabilidade com o sobrenome Arraes e tudo o que ele representa para Pernambuco e o Brasil. Miguel Arraes foi um dos principais governadores da história do nosso estado e, assim como Lula, foi um dos principais defensores do nosso povo. O PSB de Arraes, no entanto, é completamente diferente do PSB que está aí. A letra "s" representa qualquer outra coisa menos a palavra socialista. Minha luta política começou no PSB que representava Arraes. O PSB de hoje é responsável por mais de 1.700 empreendimentos paralisados por todo o estado, R$ 8 bilhões em obras paradas - dos quais R$ 2,5 bilhões já foram gastos. Com relação ao PT, já deixei bem claro inúmeras vezes. O PT tem um papel essencial na luta pela democracia e justiça social. Mas aqui em Pernambuco, o PT vem fazendo opções que não podia mais continuar acatando. Inclusive, fui sabotada por muitos dirigentes da Executiva Estadual PT de Pernambuco, como muitos sabem. Porém, continuo com uma excelente relação com inúmeros integrantes do partido, com a militância, que é a alma, a base do PT. É tanto que tenho recebido dezenas de apoios de pessoas que são filiadas, inclusive lideranças partidárias. Não se trata de antagonismo, trata-se de coerência. O Solidariedade foi um partido que me acolheu e que me deu a oportunidade de continuar a minha caminhada, dentro dos mesmos princípios e valores – porque disso eu não abro mão. É um partido que está na base de apoio à pré-candidatura do presidente Lula e tem compromisso com o resgate do Brasil aos brasileiros. 

Fórum: Sua ida ao Solidariedade para a candidatura ao governo rachou em parte o PT no Estado. Como está sua relação com os petistas de Pernambuco e do Brasil?

Marília Arraes - O sentimento da maior parte das pessoas que fazem parte do PT em Pernambuco era, com certeza, de poder ter a oportunidade de votar em uma candidatura do próprio partido. Foi assim em 2018, quando nosso nome foi escolhido, durante votação da Executiva estadual - para representar o partido na eleição majoritária daquele ano, e se repetiu este ano. É tanto que como já falei anteriormente, dezenas de pessoas, entre lideranças e militantes estão publicamente declarando apoio à nossa pré-candidatura ao Governo do Estado. O movimento "oPTei Marília", que nasceu organicamente dentro do PT, deixa claro que a nossa relação com a militância e boa parte das lideranças petistas permanece muito boa. 

Fórum: Lula deve estar em Pernambuco nas próximas semanas. Ainda mantém contato com ele? Terá alguma agenda já que o Solidariedade também faz parte da coligação?

Marília Arraes - O povo do presidente Lula está comigo. Sabe que Marília é Lula e Lula é Marília. Lula representa o sentimento de avanço. Tenho lealdade com o presidente Lula, afinal, desde o meu primeiro voto, escolhi ele para votar. Lula representa o sentimento de avanço e esperança para o povo. Sigo defendendo Lula e lutando por seu projeto de país. Ainda não há um cronograma fechado, mas estamos construindo junto com o presidente Lula, a direção de sua campanha e o Solidariedade, esse cronograma. No outro palanque só há problema.  

Fórum: Sua atuação no Congresso neste último mandato tem sido muito importante para combater a base bolsonarista. Na sua visão, quais os principais desafios o campo progressista ainda tem no parlamento esse ano?

Marília Arraes - O bolsonarismo é um mal para o Brasil. O retrocesso político, social e político que o nosso país teve nos últimos anos é estarrecedor. É algo que temos que encarar de frente, sem medo, e com muita luta. Não será fácil derrotar a política antidemocrática e antipovo de Bolsonaro. Na Câmara dos Deputados, lutei contra aprovações de projetos que mexem diretamente - para pior - com a vida das pessoas. Defendi nos debates e votei a favor de projetos que Bolsonaro atuou diretamente para enfraquecer e não permitir a aprovação, a exemplo da concessão do benefício do vale-gás, da Lei Aldir Blanc, da Lei Paulo Gustavo, do projeto - de minha autoria – que garante a distribuição gratuita de absorventes e a dignidade menstrual para quase seis milhões de brasileiras, etc.  Votei contra a Reforma da Previdência – cujo projeto colocado em pauta não traduz as necessidades de nosso povo. Estarei na linha de frente contra todas as políticas destrutivas que o governo federal apoiar. Nós, do campo progressista, precisamos ter muita atenção com a Reforma Administrativa, que mexe totalmente com os servidores públicos do nosso país. Também será necessário atuar para modificar – e muito – a proposta do Governo para a Reforma Tributária. A luta será grande, mas eu não fujo da luta.         

Fórum: Quais os desafios de um eventual governo Lula no Congresso, visto o "parlamentarismo" instalado por Bolsonaro via Orçamento Secreto? Acredita que Lula possa puxar uma grande bancada progressista caso as pesquisas se confirmem e ele saia vitorioso?

Marília Arraes - Será fundamental ter uma bancada progressista e que dê segurança para Lula governar o país a partir do ano que vem. O Brasil precisa de um processo de reconstrução que só Lula conseguirá guiar. Pela minha experiência no parlamento, é necessário diálogo, parceria e muita disposição para resgatar o Brasil para os brasileiros. 

Fórum: Aos 38 anos, mãe de duas meninas, há 14 anos na política. Qual o maior sonho da mulher Marília Arraes?

Marília Arraes - Que nossa gente tenha oportunidade real de viver com qualidade e dignidade. Como mãe, eu sonho que todas as crianças possam ter acesso a educação de qualidade, a alimentação adequada, lazer, saúde, segurança, tudo que lhes garanta condições de ter um futuro em que possam alcançar seus objetivos. Que nossos jovens de hoje possam conseguir uma formação que lhes garanta um trabalho promissor e qualidade de vida. Que os idosos possam ter o direito a descansar, a aproveitar a vida depois de tanta luta e trabalho. Que as mulheres possam andar nas ruas em segurança, que tenham acesso as mesmas oportunidades de educação e trabalho que os homens e que ocupem cada vez mais espaços em todas as esferas da sociedade. Sonho que a fome, a miséria, a dor de ver crianças morrendo de desnutrição ou de doenças provocadas pela falta de saneamento sejam apenas uma lembrança amarga de um passado superado. Eu sonho com um Pernambuco com água, energia, trabalho, habitação, saúde, educação, desenvolvimento e justiça social para todos e todas.