GOVERNO BOLSONARO

Milton Ribeiro: Entenda o esquema de propinas em barra de ouro com pastores que levou ex-ministro à prisão

Jair Bolsonaro teria pedido "tratamento privilegiado" aos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, que operavam "gabinete paralelo" em esquema de corrupção para liberação de verbas do Ministério da Educação.

MIlton Ribeiro, Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.Créditos: Luis Fortes/MEC
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Preso na manhã desta quarta-feira (22) pouco menos de três meses após deixar o cargo, o pastor e ex-ministro da Educação Milton Ribeiro é suspeito de montar um balcão de negócios juntamente com os também pastores Arilton Moura e Gilmar Santos na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) por meio de propinas, pagas até mesmo em barras de ouro.

O escândalo foi revelado em reportagem do jornal O Estado de S.Paulo que mostrou que os dois pastores montaram uma espécie de gabinete paralelo para negociar a liberação de verbas da educação mediante pagamento de propina.

Em áudio vazado, o ex-ministro diz ter recebido ordens de Bolsonaro para dar "tratamento privilegiado" aos pastores. Em depoimento à Polícia Federal, Ribeiro confirmou que o presidente pediu para que ele recebesse um dos pastores, embora tenha negado que o pedido fosse de "tratamento privilegiado".

"O presidente Jair Bolsonaro realmente pediu para que o pastor Gilmar fosse recebido, porém isso não quer dizer que o mesmo gozasse de tratamento diferenciado ou privilegiado na gestão do FNDE ou MEC, esclarecendo que como ministro recebeu inúmeras autoridades, pois ocupava cargo político", disse o ex-ministro em seu depoimento.

Barras de ouro

A revelação de que os pastores pediram propina em barras de ouro para liberar dinheiro do FNDE partiu de Gilberto Braga (PSDB), prefeito de Luis Domingues (MA).

Segundo ele, o pastor Arilton Moura pediu propina de 1 quilo de ouro para liberar recursos MEC destinados à construção escolas e creches em sua cidade.  

"Ele (Arilton Moura) disse: ‘Traz um quilo de ouro para mim’. Eu fiquei calado. Não disse nem que sim nem que não (...) Ele disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar (a demanda no MEC). E na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”, relatou o prefeito ao jornal.

A solicitação do pastor teria ocorrido em abril de 2021 durante um almoço em Brasília, logo após uma reunião com o próprio ministro Milton Ribeiro, dentro do MEC. 

Braga confirmou o pedido de propina na Comissão de Educação (CE) do Senado Federal. "O pastor Arilton me disse: 'Você vai me arrumar R$ 15 mil para protocolar suas demandas; depois que o recurso já estiver empenhado, como a sua região é de mineração, vai me trazer um quilo de ouro'. Eu não disse nem que sim nem que não, me afastei da mesa", disse no Senado.

Além dele, os prefeitos José Manoel de Souza (PP), de Boa Esperança do Sul (SP); e Kelton Pinheiro (Cidadania), de Bonfinópolis (GO) confirmaram à comissão de Educação os pedidos de propina dos pastores.

Kelton Pinheiro afirmou ter ficado "com ânsia de vômito, sem chão" quando Arilton fez o pedido de propina. "Ele disse: "Vi que seu ofício está pedindo a escola. Deve custar uns R$ 7 milhões. Mas eu preciso de R$ 15 mil na minha mão hoje, porque esse negócio de 'para depois' não cola comigo, não. E é R$ 15 mil porque você está com o pastor Gilmar, porque dos outros cobrei R$ 30 mil, R$ 40 mil", relatou Pinheiro.