INVESTIGAÇÃO

Empreiteiros bolsonaristas pagaram mensalão para milícia da Zona Oeste do Rio

Nomes das construtoras estão relacionadas em "contabilidade" do Bonde do Zinho, maior milícia do país. Donos da MRV e da Direcional participaram de reunião fora da agenda com Bolsonaro no Planalto em 2019.

Jair Bolsonaro.Créditos: Clauber Cleber Caetano/PR
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Uma operação policial conduzida pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro escancarou a relação de gigantes da construção civil com uma das maiores milícias do país, o Bonde do Zinho, formada por policiais e ex-policiais que atuam numa área de cerca de 500 quilômetros quadrados na Zona Oeste da capital fluminense - região onde Fabrício de Queiroz se escondeu quando estourou o escândalo das "rachadinhas", primeiro envolvendo o clã Bolsonaro em esquemas de corrupção durante o atual governo.

Documentos obtidos pela Veja, que relacionam a "contabilidade" da milícia com faturamento de R$ 30 milhões mensais, mostram contribuições mensais de ao menos três grandes empreiteiras: Tenda, MRV e Direcional. Na mesma lista há um valor de R$ 58.222 recebido de "empreiteiros" e R$ 1,5 mil de "Margarida".

Na descrição do valor mensal pago à milícia, R$ 67 mil são atribuídos à Tenda, R$ 74 mil à MRV e R$ 37 mil à Direcional, em um total de "entrada" de R$ 237.222.

Responsável pelo maior valor pago, a MRV é de propriedade do empresário Rubens Menin, que também é dono da CNN. Menin é um dos principais entusiastas do atual governo e coleciona uma série de encontros com Bolsonaro. O último deles aconteceu em 20 de maio, durante visita de Elon Musk, da SpaceFox, ao Brasil.

Ricardo Valadares Gontijo, presidente-executivo da Direcional Engenharia, também é entusiasta de Bolsonaro e, em julho de 2019, juntamente com Menin foi recebido pelo presidente no Planalto em um encontro fora da agenda.

Após vazamento, do encontro, o presidente da Câmara Brasileira da Indústria e Construção (CBIC), José Carlos Martins, disse que o tema da reunião girou em torno de "projetos que faríamos na construção com recursos do FGTS para gerar emprego no 'day after' [dia seguinte, em inglês] da aprovação da reforma da Previdência".

Nos bastidores, foi ventilado que o encontro ocorreu por pressão dos empresários, que fez com que o governo adiasse o anúncio da liberação dos saques do FGTS.

Já a Tenda vive uma crise sem fim. Há três semanas anunciou a destituição de diretores operacionais, fez um corte de 15% a 20% no quadro de funcionários e negocia aumento do endividamento com credores.

Na reportage, a Veja faz questão de ressaltar: "que fique claro: do ponto de vista legal, ao pagar aos marginais, não estão incorrendo em crime". E divulga uma declaração do delegado titular da DRE, Marcus Amim, dizendo que as empreiteiras "são vítimas".