CORRUPÇÃO

Bolsolão do MEC: Empresário que denunciou esquema revela como pastores pediam propina

O ex-ministro Milton Ribeiro e os pastores Gilmar santos e Arilton Moura são acusados de comandar suposto esquema de liberação de verbas do Ministério da Educação para aliados

Bolsolão do MEC: Empresário que denunciou esquema revela como pastores pediam propina.Créditos: Redes Sociais
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Em entrevista ao Fantástico (Globo) deste domingo (26) o radialista e empresário Edvaldo Brito, que fez a denúncia que levou a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e de mais de três pastores envolvidos no "Bolsolão do MEC", revelou detalhes de como se dava o pedido de propina. 

Além do ex-ministro Milton Ribeiro, a Polícia Federal prendeu os pastores Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, diretor do Conselho Político da mesma Assembleia de Gilmar. 

A Polícia Federal trabalha com a hipótese de que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura cobravam propinas para organizar encontros com Milton Ribeiro e para direcionar verbas do Ministério da Educação. 

Foi a partir da denúncia de Edvaldo Brito que a PF deu início à investigação que desbaratou o esquema de propinas dos pastores no MEC. "Eu descobri que o ministro tinha um gabinete itinerante. Os técnicos do FNDE iam para um determinado município, organizavam um evento em parceria com os municípios, e aí todos os outros municípios era atendidos", revela Edvaldo. 

O radialista revela que procurou o pastor Gilmar Santos para ver se seria possível levar o então ministro e o gabinete itinerante para a sua região, em Odessa Paulista, no interior de São Paulo. Após os encontros com técnicos do MEC, havia um culto. 

"O ministro pregava nesse culto. Acabei descobrindo o contato do Gilmar através da própria igreja dele. Liguei para ele, que marcou para me atender em Brasília, num hotel. Eu fui até lá. Eu vi que realmente tinha uma mesa lá em que ele atendia, conversava. Depois, chamava o outro na mesa", conta Edivaldo. 

A ida do ex-ministro Milton Ribeiro a Nova Odessa foi aprovada. "Naquele momento, eu estava falando com um pastor, um pastor que ajudava as pessoas. Porque o que eu conheço é isso. O que eu conheço do cristão é se doar", diz Edivaldo. 

Posterior ao primeiro contato, os pastores pediram que Edvaldo e o prefeito de Nova Odessa fossem a Brasília para gravar um vídeo com o então ministro da Educação. Foi neste encontro que ocorreu o pedido de propina feito pelo pastor Arilton. 

"O próprio Arilton disse: 'olha, eu preciso que você faça uma doação. É para uma obra missionária'. Eu falei: 'Tudo bem. E de quanto é essa doação?', aí ele falou: 'Ah, por volta de R$ 100 mil reais é a doação'. Eu falei: 'É muito. Eu não tenho. Eu não tenho condição. Mas eu tenho amigos, pessoas, empresários que costumam investir na obra e que eu vou pedir a doação'", revela Edvaldo.  

De acordo com a investigação da PF, o método relatado por Edvaldo era replicado em todo o Brasil. 

 

As acusações contra Milton Ribeiro e os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos 

 

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro foi preso em operação da Polícia Federal (PF) realizada na manhã desta quarta-feira (22), suspeito de operar um balcão de negócios no Ministério da Educação (MEC) e na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação). A prisão é preventiva, ou seja, não tem prazo para ser revogada.

Além de Milton Ribeiro, também foram presos os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, ligados ao presidente Bolsonaro (PL) e apontados como participantes que atuavam no esquema que ficou conhecido como "Bolsolão do MEC". 

Milton Ribeiro, Arilton Moura e Gilmar Santos foram presos acusados de cobrar propina para facilitar a liberação de recursos do Ministério da Educação para prefeituras.

Batizada de "Acesso pago", a operação foi autorizada pelo juiz federal Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal. A investigação apura os seguintes crimes: 

 

- Corrupção passiva (que tem pena prevista de dois a doze anos de prisão); 

-  Tráfico de influência (dois a quatro anos); 

- Prevaricação (três meses a um ano); 

 - Advocacia administrativa (um a três meses). 
 

A investigação começou no Supremo Tribunal Federal (STF), mas, depois que Milton Ribeiro deixou o MEC, foi remetida à primeira instância.