ELEIÇÕES 2022

Ciro mantém o apoio do PDT, mas voto útil em Lula pode ser uma questão de tempo

O pedetista conta com o apoio da bancada do partido na Câmara, mesmo não alcançando os dois dígitos nas intenções de votos. Do outro lado há quem defenda "reavaliar" candidatura em setembro, para derrotar Bolsonaro no primeiro turno

Ciro Gomes Créditos: Divulgação
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Ciro Gomes, ainda  longe dos 20% nas  intenções de votos, continua mantendo o apoio da bancada do partido na Câmara.  Porém, do outro lado, já enfrenta sinais de desembarque daqueles que defendem voto útil no ex-presidente Lula (PT) como o único político capaz de derrotar Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno.

No último Datafolha, divulgado em 26 de maio, Ciro aparece em terceiro lugar, com 7% das intenções de voto. Lula segue na liderança com  48%, 21 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro, que aparece com 27%.

O cenário para Ciro se manteve praticamente inalterado em relação ao levantamento divulgado dois meses antes, onde ele aparecia com 6%. Na época, nomes como o ex-juiz Sergio Moro (União Brasil, com 8%) e ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB, com 2%) ainda estavam na disputa.  

O resultado da pesquisa não abalou o apoio bancada pedetista na Câmara, que continua firme com o presidenciável do partido.
Na avaliação dos apoiadores de Ciro, a candidatura é legítima e fortalece o partido, por ser uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro.

"(A bancada dá) apoio irrestrito e incondicional ao nosso candidato à presidência Ciro Gomes. Nós não temos vacilação. E não é pelo movimento, pelas pesquisas, todas respeitáveis, que nós vamos nos comportar como outros grupos fazem de forma adesista e interesseira", afirmou à Folha de S. Paulo, o deputado Afonso Motta (RS). 

Já o deputado Pompeo de Mattos acredita que  o momento do voto "nem Lula nem Bolsonaro" ainda vai chegar. "A eleição está muito na pesquisa. Se pesquisa ganhasse eleição, não precisava de eleição, fazia pesquisa. A pesquisa é um retrato. O que vai sobrar de alternativa vai ser o Ciro."

Chico D'Angelo (RJ) também vai na linha de que a candidatura é legítima e que no segundo turno, Ciro poderia apoiar  Lula. "Em meio à polarização, Ciro ocupa um espaço no campo democrático popular", disse. "Num segundo turno, tenho certeza de que ele viria a apoiar o Lula. A candidatura de Ciro está colocada e não tem questionamento no partido."

Contudo, há quem já defenda que o partido reavalie o cenário caso a candidatura continue sem furar a polarização. "Estou empenhadíssimo na campanha do Ciro Gomes. Mas eu entendo que a eleição presidencial tem que ser encerrada no primeiro turno. Então eu luto para que o Ciro chegue ao segundo turno, porque o Bolsonaro tem que ser derrotado", afirma Paulo Ramos (RJ).

Na visão do parlamentar, setembro é o limite para o partido "reavaliar" caso a candidatura permaneça inviável . "Obviamente, se nós chegarmos em setembro, Lula com 42% e Ciro 10%, e houver a chance de derrotar o Bolsonaro no primeiro turno, vamos caminhar para derrotar", disse.

Reservadamente, deputados afirmam que o PDT deve seguir com a candidatura até o final, mesmo sem alcançar os dois dígitos. Segundo eles, o "estrago" foi feito, como a debandada de deputados, comprometendo  a estrutura de palanques competitivos para a sigla em outubro. O PDT tinha 25 deputados em sua bancada. Atualmente, são 19.

A estratégia de Ciro em atacar Lula a todo custo é vista com ressalvas por deputados, como Chico D'Angelo e Paulo Ramos.

"Poderia não ter o nível de críticas ao Lula, são excessivas. O foco é derrotar Bolsonaro. O PT tem um respeito grande em relação ao PDT". 

Já Paulo Ramos Ciro recomenda que o presidenciável seja mais respeitoso. "Quando ele parte para a agressão, como ele tem partido, ele perde voto. Porque sem dúvida alguma, ele é o mais preparado para o debate", afirma Paulo Ramos.

Já Pompeo de Mattos defende a estratégia do pedetista e relativiza o conteúdo dos ataques diários. "Não tem ofensa de Ciro contra Lula, tem assertivas. Se ele disse e o outro junta o mesmo argumento é porque o argumento tem fundamento", afirma. "Eu não vejo nenhuma coisa que o Ciro disse do Lula que não tenha fundamento, que seja uma fake news."