TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Favorecimento de Pedro Guimarães a Michelle Bolsonaro continua mal explicado

Procurador arquivou o caso sem investigar, de acordo com a Crusoé, apenas com um documento da Caixa detalhando como funciona a concessão dos empréstimos

Michelle Bolsonaro e Pedro Guimaraes.Créditos: José Cruz/AGbr
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Continua mal contada a história que envolve o ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães, exonerado após ser alvo de denúncia de assedio sexual por diversas funcionárias, e a primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Michelle teria montado um bunker para fazer lobby em Brasília para aliados do governo.

A revista Crusoé afirma, em reportagem de outubro do ano passado, ter obtido documentos do próprio banco, apontando que a primeira-dama teria determinado ao presidente da Caixa que concedesse empréstimos "a juros baixos" a um seleto grupo de empresários aliados do governo durante a pandemia. Alguns deles prestam serviços em cerimoniais e atos no Planalto.

"A pedido da sra. Michelle Bolsonaro e conforme conversa telefônica entre ela e o presidente Pedro, encaminhamos os documentos dos microempresários de Brasília que têm buscado crédito a juros baixos", diz e-mail enviado pela assessora especial da Presidência, Marcela Magalhães Braga, no dia 20 de maio de 2020.

Procedimento interno

De acordo com a revista, os pedidos geraram um procedimento interno de auditoria na Caixa. Na análise dos processos, as empresas constam como indicadas por "Pessoa exposta politicamente" sob a sigla PEP, como são tratados os pedidos que partem de pessoas próximas ao poder.

"Cliente veio através da lista de empresas indicadas pela primeira-dama Michelle Bolsonaro ao presidente Pedro Guimarães", diz um dos documentos.

A lista reúne empresários que prestam serviços diretamente à Michelle, como florista, cabelereira empresários do ramo de moda, ou que atendem a cerimoniais no Planalto, como a doceira Maria Amélia Campos, que obteve, após lobby da primeira-dama, um empréstimo de R$ 518 mil junto à Caixa.

Quem indica

Maria Amélia se notabilizou nas redes sociais ao protagonizar um vídeo em que aparece à frente dos funcionários criticando as medidas de isolamento social contra a Covid-19 no Distrito Federal. "Lockdown não salva, lockdown mata. Governador deixa a gente trabalhar", diz ela no vídeo.

"O contato com a primeira-dama foi fundamental. É o famoso QI (quem indica) que fala, né? Foi uma parceria com a primeira-dama, ela que deu a força final. Foi a Maria Amélia, amiga da gente, que conseguiu com a primeira-dama. Precisei ir uma vez só na Caixa. Foi fácil conseguir", disse à reportagem Waldemar Caetano Filho, sócio do salão Luiza Coiffeur, sobre empréstimo obtido por indicação de Maria Amélia à primeira-dama.

Pedro Guimarães negou

Pedro Guimarães negou o favorecimento na época: "todas as operações na Caixa, de micros e pequenas empresas, são feitas e avaliadas de maneira automática, sem nenhum envolvimento de gestor. Portanto, não houve privilégio algum a ninguém. Essas operações são todas independentes, com aval anterior da Receita Federal e sem nenhuma possibilidade de ingerência administrativa ou política", disse.

Procurador arquivou

O procurador Carlos Henrique Martins Lima, que atua no Núcleo de Combate ao Crime e à Improbidade Administrativa do Ministério Público Federal no Distrito Federal, determinou em janeiro o arquivamento de investigação sobre a suposta intervenção da primeira-dama junto à Caixa.

De acordo com a própria Crusoé, o procurador sequer investigou o caso. Para promover o arquivamento, bastou um documento da Caixa detalhando como funciona a concessão de empréstimos como tais, alegando "ausência de irregularidade". Em despacho datado de 13 de dezembro passado, o procurador entendeu que "inexiste linha de investigação a ser adotada para se dar continuidade às apurações”.