ELEIÇÕES 2022

Entenda como funciona a máquina de Bolsonaro para propagar fake news e discurso de ódio

Bolsonaristas passam por treinamento no 'gabinete do ódio' e recebem cerca de R$ 1,5 mil para atuarem em chats e redes sociais atacando Lula e o sistema eleitoral, revela historiador

Paulo Guedes, Augusto Heleno, Carlos e Jair Bolsonaro.Créditos: Reprodução/Twitter
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O medo de perder as eleições - e de uma eventual prisão sem foro privilegiado - tem levado Jair Bolsonaro (PL) a intensificar a atuação de radicais nas redes sociais. Juntamente com o discurso religioso de Michelle Bolsonaro, o presidente busca incitar apoiadores sobre a disputa entre "bem e mal" - em que ele seria "o bem" e Lula (PT) "o mal" - recrutando de forma remunerada pessoas para invadir chats e redes sociais para propagar fake news e discurso de ódio.

O cientista político e historiador Carlito Neto está acompanhando a movimentação em grupos de apoio a Jair Bolsonaro e estuda o modus operandi de recrutamento de pessoas para atuarem na guerra de ódio promovida nas redes.

"Eles têm níveis de filtragens. Eles aliciam as pessoas para entrar nesse 'gabinete do ódio', que vão respondendo a alguns critérios e passando de fase, até chegar nessa fase final que eles sabem quanto vão receber e qual a sua função", explicou em entrevista ao Fórum Onze e Meia - assista abaixo.

Por meio de pessoas infiltradas nesses grupos, o historiador diz que o esquema funciona "quase como um PCC" e que o pagamento para esses apoiadores chega a R$ 1,5 mil reais.

"Uma figura chamada BrAdmin019 pergunta o seguinte à pessoa que está lá - que é quase como se fosse um PCC, tem que ter um padrinho para entrar: 'quem te convidou?'. E a pessoa responde: 'UsAdmin'. 'Ok. Aguarde a confirmação e passarei a sua função'. 'Estou no aguardo e vou ficar no chat da CNN?', pergunta a pessoa. O AdminBR fala: 'Você foi confirmado'. Ou seja, pela checagem viu que a pessoa passou na triagem, ela tá aprovada. Então vamos lá: 'sua função será rebater chats e comentários da oposição nas redes sociais; você foi designado para o Facebook'", relatou Carlito, lendo o relato que recebeu de um dos infiltrados nos grupos bolsonaristas.

Na sequência, o historiador segue com a conversa entre o infiltrado e o agente do 'gabinete do ódio': "'Você receberá uma ajuda de R$ 1,5 mil, seu horário será das 16h às 22h e irá gerenciar 10 perfis, sempre com opiniões distintas como mostrado no treinamento'".

"Ou seja, são opiniões em defesa do presidente, mas não opiniões idênticas para não parecer que é organizado", emenda Carlito, ressaltando que chegou a avisar o diretor da Fórum, Renato Rovai, sobre ataques orquestrados no chat da TV Fórum. "Eles já estão agindo".

O historiador também relatou como funciona o esquema de pagamento sem deixar rastros, por meio de lavagem através de pagamentos virtuais.

"'E o pagamento, como recebo?'. E o administrador da página explica: 'Não pode haver registro bancário, como foi dito no treinamento'. E como será feito esse pagamento, provavelmente: superchats, clubes de membros, apoie-nos. 'Ah, Carlito, mas como se tem identificação?'. Lembrem da denúncia apresentada contra o MBL em 2020? Quando supostos CPFs falsos foram criados em geradores de CPFs para poder gerar cartões pré-pagos, que eram abastecidos e supostamente utilizados para mandar superchats, virar membro. Tem pagamento feito em criptomoeda, pois nem toda criptomoeda é rastreável. Casas de apostas ligadas a bolsonaristas podem ser usadas", diz o historiador.

Assista a explicação de Carlito Neto a partir de 46 minutos.