GREENWASHING

Quem é Simone Tebet? Como ela vota no Senado e quem apoiou em 2018?

Até a CPI da Covid, senadora ruralista de Mato Grosso do Sul era marcada pela pauta anti-indígena e apoio ao governo Bolsonaro; agora candidata, tenta se colocar como sensível às pautas ambientais. Conheça sua trajetória

Simone Tebet (MDB-MS).Créditos: Moreira Mariz/Agência Senado
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Desde a CPI da Covid a senadora Simone Tebet (MDB) vem ganhando destaque na cobertura midiática, sobretudo por ter se colocado naquela ocasião como alguém que combatia o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia. Tal notoriedade a levou a lançar neste ano sua candidatura à presidência e, ainda que tenha um percentual muito pequeno de intenções de votos nas pesquisas, foi considerada a vencedora do debate do último domingo (28), na TV Bandeirantes, podendo inclusive impedir uma vitória do ex-presidente Lula (PT) em primeiro turno, principalmente após rebater declarações misóginas do atual presidente.

Após a participação neste debate e também em sabatina no Jornal Nacional, da TV Globo, na última sexta (26), seu nome começou a ser muito procurado nas buscas do Google. Mas, afinal de contas, quem é a senadora e candidata?

Advogada e professora universitária, Simone Tebet tem 52 anos vem de uma família poderosa do Mato Grosso do Sul, não apenas na política, mas também nos negócios. Seu pai, Ramez Tebet, é de uma tradicional família de origem árabe, da cidade de Três Lagoas, onde foi nomeado prefeito em 1975 e desde então não saiu mais da política. Atuou como secretário de Justiça do Mato Grosso do Sul e, em seguida deputado estadual. Atingiu seu auge nos anos 90 quando foi eleito senador em 1995 e novamente em 2002 – deixando o cargo em 2006 por conta do seu falecimento. Entre 2001 e 2003 chegou a ser presidente do Senado e chegou a ter, em seu nome, mais de dez fazendas.

Com a morte de Ramez em 2006 ficou a herança política para Simone que naquele ano estava no primeiro mandato como prefeita de Três Lagoas – seguindo os passos do pai. Ela foi prefeita da cidade natal por dois mandatos e abandonou o cargo em 2010 quando foi eleita vice-governadora do Mato Grosso do Sul. Nas eleições seguintes, em 2014, foi eleita senadora e cumpre o mandato desde 2015. Antes da prefeitura, tinha sido deputada estadual entre 2003 e 2005. Pai e filha jamais concorreram a uma vaga na Câmara dos Deputados em Brasília.

Representante da bancada ruralista sul-matogrossense

Mas não foi apenas a carreira política que Simone Tebet herdou do pai. Com a morte do patriarca, Tebet acabou recebendo, de quebra, uma verdadeira fortuna em imóveis sul-matogrossenses. Entre as principais propriedades estão três fazendas, uma em Três Lagoas, outra em Fátima do Sul e a terceira em Caarapó. Esta última, chamada de Santo Antônio da Matinha e que conta com 860 hectares, foi registrada entre os bens da senadora com o valor de R$ 457 mil reais.

Na região onde estão as terras da senadora, em especial Caarapó, há um longo histórico de conflitos entre ruralistas e indígenas Guarani-Kayowá. De acordo com o Conselho Indígena Missionário (Cimi) o imóvel de Tebet faz parte do Tekoha Pincorock, uma extensão de terras reivindicadas pelos indígenas Guarani Kayowá que faria parte da Terra Indígena Amambaipeguá. A portaria que iniciaria a homologação e demarcação do território foi publicada no governo Dilma Rousseff mas acabou engavetada. Há mais de 80 fazendas na área envolvidas na reivindicação.

Em junho do ano passado, a tropa de choque da Polícia Militar do MS realizou uma operação frágil do ponto de vista legal na região – pois esse tipo de operação, envolvendo conflitos fundiários com povos indígenas, deve ser encampada pela Polícia Federal –, mas nem um pouco frágil em termos práticos, uma vez que deixou o indígena Vito Fernandes morto aos 42 anos, além de outros 8 feridos. Em 2016, um ataque de ruralistas em Caarapó contou com 40 caminhonetes e matou o indígena Clodioli Aquileu Rodrigues, de 26 anos. Também deixou 8 feridos.

O conflito de interesses, nesse caso específico, talvez possam explicar o voto da senadora, em 2016, favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. “Por tudo isso, pelos crimes de responsabilidade fiscal cometidos pela senhora presidente da República no ano de 2015, mas principalmente pelas consequências nefastas a esta e às futuras gerações que pagarão essa conta fruto de irresponsabilidade fiscal. Por todo o mal que causou e está causando à população brasileira, eu voto a favor do impeachment da senhora presidente da República, mas mais do que tudo, voto na esperança de melhores dias”, afirmou Simone Tebet à época.

Atuação como senadora

Além do discurso favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Simone Tebet se colocou, ao longo da sua trajetória no Senado, contrária às reivindicações dos Guarani-Kayowá e dos povos indígenas como um todo. Em relatório do Cimi publicado em setembro de 2018, ela aparece na lista dos 50 parlamentares (que inclui deputados e senadores) que mais atuaram contrários aos interesses dos povos indígenas.

Entre os projetos de destaque nesse quesito está o PL 494, de 2015, que busca alterar o Estatuto do Índio dificultando demarcações de terras que estejam em casos de “turbação, esbulho” ou que tenham tido as terras ocupadas durante conflitos. É curioso o levantamento da atuação da candidata que desde que lançou à corrida para o Planalto tenta passar uma imagem de alguém ligada a defesa de causas ambientais.

A tentativa de Greenwashing [termo aplicado a empresas poluidoras que fazem ações marqueteiras em torno da questão ambiental em troca de isenções de impostos, entre outras benesses] da candidata ficou escancarada na última sexta-feira (26), quando o Metrópoles noticiou que sua assessoria havia sido bloqueada do site Wikipedia ao tentar, por diversas, editar informações a repeito de Tebet sobre os temas ambiental, indígena e de direitos humanos.

Em levantamento do Cimi a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as doações dos grandes empresários do agronegócio a candidatos em eleições passadas apontaram que Simone Tebet é uma das mais beneficiadas pelos ruralistas. Em sua primeira campanha para o Senado, em 2014, ela teria recebido um total de R$ 3,2 milhões em doações, dos quais cerca de R$ 2,8 milhões teriam vindo do setor.

De acordo com apuração da Agência Pública, Tebet votou com o governo Bolsonaro em 86% das tramitações que chegaram ao Senado, com destaque para apoio ao projeto que ampliou a posse de armas em propriedades rurais. Foi justamente na CPI da Covid, quando assumiu uma das vagas femininas, que Tebet se afastou do atual governo.

Ainda na CPI, foi responsável por tirar a declaração do deputado Luiz Miranda (Republicanos-DF) que colocava o então líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (DEM-PR), como envolvido no escândalo da Covaxin. Mas a mudança de postura não gerou bons frutos na política estadual para a senadora. Ao contrário de uma virtual sinalização dos ruralistas sul-matogressenses de que abandonariam o governo, foi Tebet quem perdeu prestígio. Teresa Cristina (Progressistas-MS), ex-ministra de Agricultura de Bolsonaro, é quem lidera o setor.

Em compensação, na política nacional, seu descolamento de Bolsonaro chamou a atenção de Baleia Rossi, eleito presidente do MDB com a promessa de uma candidatura própria do partido, e Tebet foi escolhida para encabeçar essa candidatura. O principal desafio da campanha é torná-la conhecida e dar-lhe uma imagem condizente com as virtudes que se espera de um político na atualidade, em especial no que se refere ao compromisso com o meio ambiente e a saúde pública. A seu favor consta a notoriedade ganha durante a CPI da Covid que marcou o rompimento com Bolsonaro. Porém, contrário a formação dessa imagem “politicamente correta”, literalmente falando, há todo o histórico da senadora.