ELEIÇÕES 2022

Dono da Natura diz que Bolsonaro e Guedes cometeram "estelionato eleitoral": "tinha agenda liberal que não foi liberal"

Pedro Passos, que apoia Simone Tebet, diz que não acredita em um "golpe com tanques na rua", mas que teme "uma ruptura possível das instituições se a gente não respeitar o direito de voto".

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes.Créditos: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Apoiador da candidatura de Simone Tebet (MDB) - que acredita chegará nos dois dígitos, mesmo com a candidata marcando em torno de 2% nas pesquisas -, Pedro Passos, dono da Natura, esmiuçou em entrevista ao jornal O Globo o motivo principal pelo qual o empresariado desembarcou do governo Jair Bolsonaro (PL).

Para Passos, Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes - fiador do governo junto ao empresariado e à mídia conservadora -, cometeram "estelionato eleitoral" ao não entregarem as promessas de implantação à força de medidas neoliberais no país.

"A avaliação é não só do Paulo Guedes, mas da gestão como um todo: não entregou o que sinalizava nas eleições. Existem várias formas de estelionato eleitoral e essa é uma delas. Porque tinha uma agenda supostamente liberal que não foi liberal. Acho que é um pecado combater o liberalismo dizendo que Bolsonaro é liberal. Isso é tudo que ele não é. Ele é conservador populista. O Paulo Guedes, não sei se por razões internas, políticas, do próprio governo, não entregou o que prometeu", disse.

O empresário ainda credita a "um falso liberalismo" o apoio remanescente de parte dos endinheirados a Bolsonaro.

"Ele facilitou a vida do agronegócio. Eu falo do pequeno agronegócio. Porque as grandes empresas do setor agem dentro das regras do jogo. Mas a vida dos pequenos que exploram invasão, que exploram garimpo, ele facilitou, tirando recursos dos órgãos de controle, sobretudo na parte ambiental. Isso criou um falso liberalismo que atendeu algumas necessidades do pequeno e médio empresário. Então acho que hoje o apoio vem mais dos pequenos e médios do que das empresas mais estruturadas".

Signatário da carta em defesa da Democracia, Passos - que em 2021 defendeu o impeachment de Bolsonaro - diz que não acredita em um "golpe com tanques na rua", mas que teme "uma ruptura possível das instituições se a gente não respeitar o direito de voto dos cidadãos".

"O questionamento à urna eletrônica é absurdo e pode fragilizar a nossa democracia, fazer a gente retroceder", diz, ressaltando que "uma ruptura institucional no país penalizaria também o ambiente de negócios".

"Nossas lideranças empresariais mais históricas ficam um pouco distantes de manifestações por medo de represália ou de conflitos de interesse com acionistas. Mas hoje está evidente que também precisamos do empresário para corrigir o rumo de desrespeito às regras do jogo", diz.

Sobre a eleição, ele defende que "as pessoas deveriam usar o primeiro turno para escolher a opção que consideram a melhor". "Aí no segundo você vota contra quem você não quer de jeito nenhum".

Sobre uma eventual vitória de Lula, Passos diz que teme a "volta da intervenção do Estado". 

"Quererem recompor a estatização da Petrobras, entrando em distribuição, refinarias. Já disse que não sou favorável ao Estado mínimo", afirma tentando traçar uma falsa similaridade entre "o PT e o Bolsonaro". "Os dois são iliberais".