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Coube à Marinha o último e mais grotesco dos papelões

Cerimônia de passagem de comando ocorreu nesta quinta (5) e o vexame foi, sem dúvidas, o maior de todos. Confira

À frente, ministro da Defesa José Múcio e o almirante Olsen.Troca de comando na Marinha não teve presença do comandante que deixa o cargoCréditos: Marinha do Brasil
Escrito en POLÍTICA el

A passagem desastrosa e vexatória de Jair Bolsonaro (PL) pela Presidência da República deixou uma série de cicatrizes na sociedade brasileira e na estrutura do Estado, mas nenhum desses danos é tão visível e lamentável quanto a politização desavergonhada, exacerbada e caricata das Forças Armadas, que é inclusive proibida por lei.

Instituições regulares e permanentes do Estado brasileiro, e que em outros momentos da História já foram protagonistas de episódios golpistas nada honrosos, as organizações militares da União tornaram-se bastiões do mais pútrido, nauseabundo e ralé dos bolsonarismos. Amparados num discurso recém-saído da Guerra Fria, passaram a defender não só no comportamento, mas também com palavras e gestos, a “administração” trágica e farsesca de um desajustado que enlameou o nome do Brasil no mundo.

Diante disso, coube à Marinha o último e mais grotesco dos papelões após a fuga de Bolsonaro para os EUA e a chegada de Lula (PT) ao Palácio do Planalto. Embora muito se tenha discutido sobre como seriam as passagens de comandos em todas as Forças, Exército e Aeronáutica realizaram essas cerimônias (o primeira antes da posse de Lula e a segunda no dia 2 de janeiro), seguindo, dentro do possível, o que manda a liturgia: comandantes que saem entregando a chefia aos comandantes que entram.

Menos na Marinha do Brasil.

Na manhã desta quinta (5), o comandante da força marítima nomeado por Bolsonaro, almirante Almir Garnier Santos, sequer apareceu no evento de passagem de comando. O escolhido por Lula para chefiar a Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, ficou com cara de tacho e recebeu o bastão das mãos do ministro da Defesa, José Múcio.

Garnier, o almirante que não foi, ainda mandou uma mensagem curta e protocolar, com toda a pompa e linguagem antiquada dos militares, recheada de ufanismos, mas sem citar, elogiar ou criticar qualquer presidente. Já Olsen, o almirante que foi, citou Lula diretamente em seu discurso e pareceu sinalizar no sentido de um caminho para despolitizar a organização militar, assim como já havia ocorrido na passagem de comando da Aeronáutica.

“Expresso aqui notória gratidão ao presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo apanágio ao nomear-me comandante da Marinha. Agradeço o introdutório de orientações, particularmente ao referir-se à necessidade premente de promover o requerido espaço orçamentário para aumentar a capacidade operacional da Marinha do Brasil”, disse Olsen.

Segundo interlocutores do agora ex-comandante da Marinha, sua ausência na cerimônia, algo inédito desde a redemocratização, se deu por “questões políticas” e “contrariedades com a vitória eleitoral de Lula", como se um chefe militar tivesse que ficar contrariado ou satisfeito com questões políticas ou com a vitória de qualquer candidato a algo, escolhido pelo povo por meio das urnas.

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