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EXCLUSIVO: Silvinei Vasques, ex-PRF, e militar "02" de Anderson Torres comandam empresa ligada a trumpista do Capitólio

Réu por levantar bloqueios para impedir que eleitores de Lula votassem, ex-diretor-geral da PRF assumiu a vice-presidência da Combat Armor, que tem mais de R$ 35 milhões em contratos assinados com a instituição durante governo Bolsonaro.

Silvinei Vasques, Anderson Torres e Antônio Ramirez Lorenzo.Créditos: PRF
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Réu por atos de improbidade administrativa, acusado de pedir votos para Jair Bolsonaro (PL), e protagonista das ações de bloqueio para impedir que eleitores de Lula no Nordeste chegassem aos locais de votação no segundo turno - que também é alvo de investigação da Polícia Federal (PF), o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques ganhou um emprego em alto cargo na iniciativa privada menos de um mês após ser exonerado do cargo e se aposentar, em um processo relâmpago, aos 47 anos de idade

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Em janeiro de 2023, dias após a publicação de sua aposentadoria na edição do dia 23 de dezembro de 2022 do Diário Oficial da União (DOU), Vasques assumiu a vice-presidência da empresa de blindagem Combat Armor Defense do Brasil, que tem R$ 36.599.496,36 em contratos com o governo federal, todos eles com a Polícia Rodoviária Federal, órgão que é vinculado ao Ministério da Justiça.

Além de Vasques, a Combat Armor nomeou ainda como diretor, também em janeiro, o Brigadeiro do Ar Antonio Ramirez Lorenzo, que passou para a reserva em março de 2019. Em março de 2022, Lorenzo foi nomeado por Bolsonaro como secretário-executivo do Ministério da Justiça e passou a ser o número 2 da pasta comandada então por Anderson Torres, que está preso desde 20 de janeiro após a Polícia Federal encontrar uma minuta golpista durante busca e apreensão na casa dele.

Bolsonaro e invasão do Capitólio

A Combat Armor Defense pertence nos EUA ao empresário Daniel Beck e foi trazida ao Brasil no final de 2018, após Bolsonaro vencer as eleições presidenciais. Instalada primeiramente em Vinhedo, no interior de São Paulo, a empresa se mudou para um galpão maior na vizinha Indaiatuba após assinar vultosos contratos com o governo federal e gestões estaduais ligadas ao bolsonarismo.

Blindados da PRF no pátio da Combat Armor, em Indaiatuba (SP) (Instagram)

Conhecido apoiador de Donald Trump, Beck foi um dos articuladores da marcha em Washington que terminou no dia 6 de janeiro com a invasão do Capitólio por apoiadores do ex-presidente de extrema-direita que não aceitou a derrota para o democrata Joe Biden nas eleições presidenciais.

Beck teria se reunido com Eduardo Bolsonaro (PL-SP) antes da invasão do Capitólio e foi recebido no Planalto no dia 24 de março de 2022, acompanhado do presidente da Combat Armor do Brasil e seu sócio no empreendimento, Maurício Junot de Maria.

Segundo informações obtidas com exclusividade pela Fórum, Junot já teria, na prática, entregue o comando da Combat Armor do Brasil a Silvinei Vasques e Antônio Lorenzo e pretende voltar a morar nos Estados Unidos assim que fizer a transição com a nova diretoria.

Além dos contratos suspeitos com a PRF, a Combat Armor do Brasil  é alvo do Ministério Público e da Corregedora-Geral do Tribunal de Contas do Estado do Rio, que investigam contratos firmados pelo então governo Cláudio Castro (PSC) para aquisição de 15 "caveirões" cujos valores somados ultrapassam R$ 20 milhões.

No início de fevereiro, a conselheira Marianna Montebello, do TCE, suspendeu os pagamentos para compra dos veículos blindados após uma auditoria apontar irregularidades no processo da compra - como direcionamento da licitação à empresa - e problemas nas entregas dos blindados.

Em agosto de 2022, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) chegou a proibir a Combat Armor de participar de licitações no Brasil após a empresa vencer a licitação e se negar a entregar os veículos ao tribunal alegando defasagem nos preços.

“Em dezembro de 2020 foram entregues pela empresa Combat Armor Defense dois veículos licitados pelo sistema de registro de preços, que foram direcionados para uso do TRF-2. Em 2021, a Corte efetuou na mesma ata novo pedido de fornecimento, porém a empresa vencedora do certame não entregou o bem e, por isso, foi penalizada pela Presidência do tribunal com sanção de impedimento de licitar com o poder público e com multa de R$ 52,6 mil, já paga”, afirmou à época o Tribunal em nota.

A Combat Armor também alegou a mesma defasagem de preços para deixar de entregar veículos blindados à Justiça Federal do Espírito Santo (JFES). 

O juiz federal Fernando Cesar Baptista de Mattos aplicou multa de 2% do valor do contrato e impediu a empresa de participar de novas licitações no Tribunal capixaba.

A Fórum entrou em contato com a Combat Armor, mas até o momento não aobteve resposta. Assim que chegar ela será acrescentada a esta reportagem.