GOVERNO LULA

MP dos Ministérios: comissão especial aprova esvaziamento do Ministério dos Povos Indígenas

Alterações propostas por relator do Centrão desagradam a base governista no Congresso e ministros; texto ainda precisa ser votado pelos plenários da Câmara e do Senado

Créditos: Agência Brasil - Parecer da MP dos Ministérios é aprovada por comissão especial e agora segue para votação nos plenários da Câmara e do Senado
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A comissão mista no Congresso Nacional encarregada de discutir a Medida Provisória 1154/2023, que estabelece a organização básica dos órgãos da Presidência da República e dos Ministérios do Governo Lula, aprovou nesta quarta-feira (24) um parecer favorável à proposta, mas com mudanças que alteram a competência para a demarcação de terras indígenas e reduzem o escopo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima.

Agora, a proposta agora será submetida aos plenários da Câmara e do Senado. O texto, editado pelo governo, precisa ser aprovado em ambas as casas até a próxima semana, uma vez que a MP perderá sua validade em 1º de junho.

As regras estabelecidas nas medidas provisórias devem ser aprovadas pelo Congresso em até 120 dias para que sejam eficazes.

Demarcação de terras indígenas

Quanto à demarcação de terras, o relator, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), retirou do Ministério dos Povos Indígenas a competência para reconhecer e demarcar terras indígenas, que é a principal atribuição dessa pasta. Segundo o texto, o ministério será responsável apenas pela defesa, usufruto exclusivo e gestão das terras e territórios.

Essa mudança tem sido criticada. Em comunicado, o ministério liderado por Sônia Guajajara criticou as sugestões apresentadas por Bulhões e afirmou que elas "vão totalmente contra a decisão do governo federal de tratar os povos indígenas com a devida importância e relevância que merecem".

"Ao mesmo tempo que a articulação dos povos indígenas tem dito, não adianta ter um governo que caminha para o futuro se uma parte do Congresso Nacional caminha para um passado arcaico", afirmou a deputada Célia Xakriabá (Psol-MG).

A demarcação de terras quilombolas permanecerá como previsto no texto original do governo, sob a alçada do Ministério do Desenvolvimento Agrário, liderado pelo ministro Paulo Teixeira, que abriga o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No entanto, o relator acrescentou a gestão compartilhada desse processo com o Ministério da Igualdade Racial, liderado pela ministra Anielle Franco.

Cadastro Ambiental Rural

Com relação ao Cadastro Ambiental Rural (CAR), um registro público obrigatório para todas as propriedades rurais, a MP transfere a responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente, liderado por Marina Silva, para o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, liderado por Esther Dweck. O cadastro é utilizado para mapear a grilagem de terras e controlar áreas desmatadas.

Saneamento básico

No âmbito do saneamento, segundo o relatório, o Ministério das Cidades, liderado por Jader Filho (MDB-PA), assumirá a gestão dos sistemas de informação que antes estavam sob responsabilidade da ministra Marina Silva, no Ministério do Meio Ambiente. Isso inclui o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir) e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh).

Além disso, o Ministério do Meio Ambiente perderá o controle da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), que passará a ser comandada pelo Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional, sob a liderança de Waldez Góes (PDT-AP), indicado pelo "Centrão".

Marina classificou as mudanças propostas pelo relator como "erros estratégicos".

Casa Civil e GSI

O relator também restaurou a redação original dos artigos que tratam das competências da Casa Civil e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Na versão anterior, a Casa Civil havia assumido atribuições relacionadas à coordenação das atividades de inteligência federal, identificação, acompanhamento e análise de situações e eventos com potencial de risco e ocorrência de crises, entre outras. Agora, essas atribuições retornam para o GSI, de acordo com o novo relatório.

Funasa

O relator incluiu na MP um trecho que autoriza a extinção da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e estabelece que os Ministérios das Cidades, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e da Saúde são responsáveis pela adoção dos atos adicionais decorrentes dessa extinção.

Críticas ao relatório

A presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), deputada Gleisi Hoffmann (PR), criticou nesta quarta-feira o relatório preliminar da MP dos Ministérios que acabou sendo aprovada. Ela comentou que o texto prejudica principalmente a área indígena