COTISTA NÃO, TRAFICANTE SIM

Tio da Damares, dono do avião da maconha, disse que não voaria com "piloto cotista"

O pastor e ex-deputado Josué Bengtson teve a fala racista resgatada nas redes após seu avião ser pego com 290 quilos de skunk, uma forma concentrada de maconha

Josué Bengtson e Damares.Créditos: Agência Brasil/Montagem
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O pastor e ex-deputado federal Josué Bengtson (PTB-PA), tio da ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, conforme a Fórum revelou nesta segunda-feira (29), é o responsável pela aeronave apreendida no aeroporto de Belém. Foram encontrados no avião 290 quilos de skunk, uma forma concentrada de maconha.

Bengtson, no entanto, virou notícia em 2020, por uma declaração considerada racista e, vista a partir dos últimos acontecimentos, no mínimo irônica. Ele afirmou na ocasião que não entraria em um avião pilotado por um cotista. No mesmo discurso, perguntou a quem o assistia se eles aceitariam ser operados por alguém que entrou na universidade por esse sistema.

"Eu não voaria num avião que alguém entrou, como piloto, como cota. Eu não voaria. É por isso que de vez em quando cai um avião. Em 99% a culpa é do piloto. Ele errou alguma coisa", disse o pastor líder da igreja quadrangular no Pará

"Você se deixaria operar, o seu coração, por um médico que entrou na faculdade na cota? Ele não passou, mas tinha que deixar uma cota para índio, uma cota para negro", afirmou na sequência. "Nesse mundo a meritocracia é que tem que funcionar. É o esforço!"

Fala racista

O presidente da Comissão de Defesa da Igualdade Racial e da Etnia e Direito dos Quilombolas da OAB/Pará, Peter Paulo, considerou a fala do ex-deputado na ocasião como racista. "Essa fala é infeliz e nos surpreende a forma como foi feita. Os profissionais formados, que entraram pelo sistema de cotas, são como qualquer outro."

O representante da OAB afirmou que é necessário combater esse discurso de preconceito. "É uma fala racista, claramente misógina, que não merece prosperar e ser aceita. Isso só mostra o racismo no Brasil, que é estrutural. Atitudes como essa devem ser combatidas!".

Relações íntimas com Damares

De acordo com informações da PF, a aeronave estava sendo utilizada pelo ex-deputado e pastor Josué Bengtson e por seu filho, Paulo Bengtson, que também é ex-deputado federal e atualmente integra o governo do estado do Pará.

Josué Bengtson é líder espiritual na Igreja Quadrangular no Pará e também é tio e padrinho político de Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Família no governo Bolsonaro (2019-2022) e atualmente senadora pelo Distrito Federal.

A carreira política de Damares Alves foi impulsionada pelas mãos de seu tio: primeiro nos anos 1980, quando Damares foi ordenada pastora da Quadrangular, e após formar-se em Direito e obter a OAB, começou a atuar em outra esfera política e religiosa.

Nos anos 1990, Damares Alves foi trabalhar no gabinete de Josué Bengtson (PTB-PA) - o nepotismo estava começando a ser extirpado da política -, posteriormente, Damares trabalharia em uma série de gabinetes da esfera religiosa, até se tornar ministra da Família e hoje, senadora.

Josué Bengtson, tio de Damares, é o secretário executivo da Igreja Quadrangular do Pará. Sobre a droga encontrada na aeronave, ele e seu filho declararam não ter conhecimento de que o skunk seria carregado na aeronave.