Arthur Lira usou orçamento secreto para indicar verba milionária investigada em esquema de corrupção
Presidente da Câmara, Lira indicou R$ 5,8 milhões para escolas de Canapi, cidade de pouco mais de 17 mil habitantes de Alagoas que, segundo a PF, não tem sequer infraestrutura para alunos beberem água.
À medida que as investigações sobre um suposto esquema de corrupção para compra de kits de robóticas em cidades de Alagoas avançam, o possível envolvimento do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se mostra mais evidente.
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Após exonerar da liderança do PP na Câmara o ex-assessor Luciano Cavalcante, cujo motorista aparece em vídeo recebendo suposta propina de operadores do esquema, Lira agora terá que explicar a indicação de R$ 32,9 milhões em emendas do orçamento secreto para compra dos kits de robóticas em municípios de Alagoas.
Lira apadrinhou R$ 32,9 milhões do orçamento secreto no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) durante o ano de 2021. Desse total, o governo, comandado por Jair Bolsonaro (PL), liberou R$ 29,7 milhões para pagamento.
Somente em Canapi, cidade de pouco mais de 17 mil habitantes, Lira enviou R$ 5,8 milhões para compra de 330 kits.
A indicação da verba consta em um documento enviado pelo próprio deputado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que lista os "padrinhos" das emendas de relator, como são chamadas as verbas do orçamento secreto por serem liberadas pelo relator do orçamento no Congresso.
No entanto, um relatório da investigação conduzida pela PF mostra que auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) constatou que as escolas de Canapi não têm sequer infreaestrutra para os alunos comerem ou beberem água.
"As escolas de Canapi contempladas com os kits de robótica não tinham infraestrutura adequada, necessitado de reformas, ampliação, aquisição de bebedouros, mesas para refeitório, bancas escolares e, principalmente, notebooks a serem utilizados nas aulas com conteúdo de robótica. Houve concentração elevada de recursos para a aquisição dos kits de robótica, em detrimento de outras ações de infraestruturas necessárias", diz o relatório da CGU.
A verba milionária foi paga para a empresa Megalic, investigada pela PF e que pertence ao casal Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PP), que faz parte do grupo de Lira em Alagoas.
Segundo a PF, as contratações de Canapi e outras 42 cidades teriam sido ilicitamente direcionadas para a Megalic, que cobrava das escolas R$ 14 mil por kit, após comprá-lo por R$ 2.700 de uma empresa em São Paulo.
Em União dos Palmares (AL), cidade de 66 mil habitantes, a indicação do presidente da Câmara foi maior, de R$ 9,2 milhões. O dinheiro efetivamente liberado pelo governo para esse município foi de R$ 7,4 milhões. Na cidade, os kits também foram fornecidos pela Megalic.
Vídeo
Nesta terça-feira (6) foi divulgado um vídeo que mostra uma suposta entrega de pacotes de dinheiro, que pode ser pagamento de propina, para um motorista de Luciano Cavalcante, ex-assessor direto de Lira.
As imagens mostram que a entrega de uma mochila que teria pacotes de dinheiro feita pelo casal Pedro Magno e Juliana Cristina, apontados pela PF como operadores da movimentação do dinheiro.
"Após a chegada de Wanderson Ribeiro, é possível verificar nas imagens que Pedro Magno pega uma pequena mochila no banco traseiro e na companhia do motorista de Luciano Cavalcante vão até o interior do veículo Corolla preto que estava em posse de Wanderson", diz a PF.
Após deixar o carro, Wanderson entrou no hotel e foi até o apartamento de número 217. A PF foi atrás de informações sobre esse quarto do hotel e descobriu que naquele dia o hóspede era Luciano Cavalcante.