Em atitude autoritária e contrária à liberdade de imprensa, o presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA), censurou o trabalho do fotojornalista Lula Marques e o proibiu de ingressar no local onde estão sendo realizadas as sessões.
A decisão foi tomada depois que o profissional fez uma foto da troca de mensagens entre uma repórter e o senador Jorge Seif (PL-SC), em que falavam sobre a operação de busca e apreensão realizada contra Jair Renan Bolsonaro. O filho do ex-presidente trabalha no gabinete do parlamentar.
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“Estou cobrindo a CPMI desde o começo e estou todos os dias lá. Eu fiz uma foto ontem, que já havia feito várias vezes, há muitos anos. Comecei na época do Fernando Henrique Cardoso a fazer esse tipo de foto”, afirmou Lula Marques, ao se referir a fotografias de troca de mensagens por celular.
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“Fiz essa foto ontem, que para mim é extremamente importante. O senador Jorge Seif (PL), de Santa Catarina, explicando para uma repórter sobre a contratação que ele tinha feito do filho do Bolsonaro. O Renan, que trabalha no gabinete dele. Se você me perguntar se eu já vi esse menino no Senado, eu nunca vi. Dizem que ele fica lá no estado dele. Isso é problemas deles”, contou o fotojornalista.
Lula destacou que fez a foto e a publicou em suas redes sociais, como sempre acontece. “Acho que o senador ligou para o Arthur Maia. O Arthur Maia, com o viés autoritário que ele tem, da direita, um cara que votou a favor do golpe contra a Dilma, tem várias fotos dele com o Bolsonaro, então, eu entendo a atitude dele de não querer viver numa democracia e, principalmente, com liberdade de imprensa. Eles sabem que a gente mostra, muitas vezes, coisas que eles não querem”, disse.
Diante da censura, o profissional revelou que foi aconselhado por seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.
“Como não teve uma formalidade, simplesmente fui comunicado pelo secretário da comissão que eu não podia mais entrar nas próximas sessões. Eu questionei, disse que achava um absurdo, autoritarismo e que ia tomar minhas providências. E tomei. O Kakay me aconselhou a fazer só uma nota de repúdio, por enquanto. Ele disse: ‘Na próxima sessão você vai. Se por acaso te barrarem, a gente entra com um processo”, ressaltou Lula.
O fotojornalista disse, ainda, que o fato não é novidade para ele, partindo do Congresso, e ainda relembrou outro caso semelhante. “O Bolsonaro e o Eduardo Bolsonaro entraram com um processo contra mim, mas foi no Rio de Janeiro e meu domicílio é um Brasília. Então, o juiz mandou arquivar”.
Lula ressaltou o que chamou de “um detalhe importante”: “Quando aquele fotógrafo, Adriano Machado, da Reuters, foi depor na CPMI na semana passada, o Arthur Maia fez um elogio à imprensa, disse que defendia a liberdade de imprensa. Só que o discurso dele caiu hoje pelo viés autoritário que ele tem. Em resumo: É simplesmente uma atitude autoritária, a pedido de um senador autoritário, bolsonarista e golpista. Vamos esperar a próxima sessão para ver o que vai acontecer”, completou o profissional.
Nota assinada pelo advogado Kakay
“O fotógrafo Lula Marques, no exercício de sua profissão, tem comparecido regularmente às reuniões da CPMI de 8 de janeiro. Contudo, na data de ontem, foi avisado pelo Secretário da Comissão, Sr. Leandro Bueno, que, por decisão do Presidente da Comissão, estaria proibido de entrar no plenário onde são realizados os trabalhos, em virtude de fotografia por ele registrada no ambiente público da CPMI e posteriormente divulgada em suas redes sociais.
Esse incidente que aconteceu com o fotógrafo Lula Marques claramente atenta contra a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão e até mesmo o livre exercício de sua profissão em um ambiente público e plural como o Congresso Nacional.
Diante de tão clara violação a princípios fundamentais da Constituição da República, espera-se que medida como essa não mais aconteça, de modo que Lula Marques possa comparecer presencialmente ao ambiente onde é realizada a CPMI de 8 janeiro, para exercer sua atividade profissional, sem qualquer tipo de limitação”.