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O diálogo dramático da esposa grávida com condenado pelo 8/1: “Não pode isso!”

Sentenciado a 17 anos, Matheus Lázaro fala em êxtase “é guerra, para o Exército entrar, entendeu?”. A jovem, esperando bebê, se desespera com a loucura do bolsonarista

Matheus Lázaro, condenado a 17 anos de prisão pelos atos golpistas.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Um diálogo que consta nos autos de um dos processos sobre a tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro, tornado público após o início dos julgamentos dos réus, esta semana, mostra como aquele fatídico domingo de verão, uma semana após a posse do presidente Lula (PT), foi dramático para familiares dos extremistas bolsonaristas que tentaram derrubar a democracia brasileira invadindo as sedes dos Três Poderes da República, em Brasília.

A conversa é entre um dos primeiros condenados pelo crime, Matheus Lima de Carvalho Lázaro, sentenciado a 17 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, e sua esposa, uma jovem grávida que ficou em casa, na cidade de Apucarana, no Paraná, e se desesperou ao ver a loucura que o marido, um militante radicalizado de extrema direita, tinha ido cometer na capital federal, com todas as televisões e redes sociais transmitindo o fracassado golpe ao vivo.

“Mô, aqui na televisão está falando que as polícias já estão tudo prontas, já. Daqui a pouco elas vão aparecer aí... Isso não pode porque já é vandalismo... Aqui está mostrando na televisão as pessoas já quebrando as coisas. Isso não pode porque isso é vandalismo. Não pode entrar quebrando, tipo... É, destruindo até o teto. Aqui na televisão está mostrando. Não pode isso”, diz a moça gestante ao companheiro, precisamente às 16h05, quando o pandemônio já estava instalado na Praça dos Três Poderes.

Em êxtase com a quebradeira dos terroristas, Matheus responde com indignação às súplicas da mulher, a essa altura preocupadíssima com o que poderia ocorrer com ele. O bolsonarista assume expressamente, às 16h36, qual era seu objetivo no ato violento.

“Que que não pode? É para quebrar, para dar desordem, para o Exército vir, mô... Mô, acabou pacificamente, não existe isso... Tem quebrar tudo, para ter reforma, para ter guerra, amor. Guerra! Para o Exército entrar. Entendeu? A gente tem que fazer isso aí para o Exército entrar, e todo mundo ficar tranquilo. O Exército tem que entrar para dentro”, responde o extremista, que ainda acrescenta: “Não vai em mídia de televisão, não, que eles estão totalmente errados. É vândalo, é vândalo mesmo. Acabou o pacífico”.

O agora condenado chegou a Brasília num ônibus, na companhia de dois amigos também radicais, e se abrigou no acampamento golpista instalado na frente do Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano. As imagens que ele mesmo registrou e transmitiu nas redes sociais acabaram sendo usadas pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) no inquérito que investigou os crimes, e que depois foi compartilhado com o STF na investigação liderada por Alexandre de Moraes.

Matheus ainda chegou a enviar uma mensagem para a esposa grávida dizendo que estava “tudo tranquilo”, já que ele conseguiu sair dos prédios invadidos e se distanciar da Praça dos Três Poderes. Só que o fim da linha estava próximo. Ele foi detido pela PM nas proximidades do estádio Mané Garrincha, já de roupa trocada, na tentativa de enganar os policiais, portando uma mochila com roupas camufladas, uma faca e uma camisa da seleção brasileira.

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