RETÓRICA GOLPISTA

Inquérito da PF: O fator religioso presente na trama golpista de Bolsonaro e aliados

Relatório destrincha recursos que alimentaram a retórica peculiar da conspiração do golpe

Ex-presidente Jair Bolsonaro, líder da trama golpista.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a trama golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados apontou uma série de características da estrutura que pretendia aplicar um golpe após as eleições presidenciais de 2022. Dentre elas, a retórica religiosa se destaca. 

No documento, a PF afirma que a conspiração golpista foi estruturada através de uma retórica peculiar, que desempenhou um papel essencial para mobilizar apoiadores, intimidar opositores e justificar ações antidemocráticas

"Frases de efeito, metáforas marcantes e discursos inflamados foram usados como armas retóricas para transformar uma narrativa golpista em um suposto movimento patriótico", diz um trecho do documento. 

Uma das técnicas foi justamente a retórica religiosa, com frases como "Deus está ao nosso lado nesta batalha", dita por líderes religiosos alinhados a Bolsonaro e amplamente difundida em manifestações e eventos.

A tentativa de envolver a fé religiosa no plano político, segundo a PF, buscava mobilizar apoiadores, conferindo ao movimento um tom quase messiânico.

Outra característica de destaque foi o uso de citações bíblicas em discursos políticos. "Referências constantes à Bíblia, como "a verdade vos libertará" e "uma batalha contra o mal", foram usadas para reforçar a narrativa de que o golpe era uma missão divina para salvar o Brasil", constatou a PF no inquérito. 

Outros recursos que alimentaram a retórica golpista também foram apontados no documento, como o uso intensivo de frases de impacto por Bolsonaro, o estilo agressivo contra opositores, a narrativa de resistência, o uso de um tom quase cinematográfico e contradições e improvisos. Confira abaixo os trechos do inquérito que destacam esses recursos.

A retórica do golpe

Frases de Impacto de Bolsonaro

  • "A história não vai lembrar quem jogou pelas regras":  

Durante reuniões estratégicas, Bolsonaro teria usado essa frase para incitar aliados a ignorarem normas constitucionais e seguirem em frente com o plano golpista. A declaração exemplifica a postura do ex-presidente em relação à legalidade e sua determinação em manter o poder.

  • "Quem decide para onde vão as Forças Armadas são vocês!":  

 Esse apelo direto a militares buscava mobilizá-los para atuar em defesa de um suposto "interesse popular". Foi repetido em discursos públicos e reuniões privadas, indicando a tentativa de cooptar o Exército para legitimar o golpe.

Estilo Agressivo contra opositores

  • "Traidores da pátria":  

 Membros do Judiciário e políticos contrários à narrativa golpista foram repetidamente rotulados como traidores. Esse tipo de retórica era amplificado nas redes sociais, alimentando a polarização.

  • "Precisamos calar essas vozes do Judiciário":  

  Relatórios indicam que essa frase foi usada em reuniões privadas para justificar o plano de neutralização de opositores, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal.

A narrativa de resistência

  • "Liberdade ou morte":  

 Usada como lema em manifestações e impressa em uniformes personalizados, essa frase buscava evocar um sentimento de heroísmo e martírio entre os apoiadores.

  • "Só os fortes perseveram":  

 Repetida em mensagens enviadas por líderes do movimento, a frase buscava reforçar a ideia de que o plano golpista era uma luta de resistência contra forças externas e internas que "ameaçavam" o Brasil.

 O tom quase cinematográfico

  • "Punhal Verde Amarelo":  

Nome dado ao plano operacional, essa expressão simboliza a tentativa de transformar o golpe em um evento histórico e épico. Sua escolha reflete a tentativa de glorificar uma ação inconstitucional como um ato de heroísmo.

  • "Estamos escrevendo a história":  

Utilizada para motivar os envolvidos, essa frase buscava dar um tom de grandiosidade às ações, apelando à ambição de se tornarem "heróis nacionais".

Contradições e improvisos

  • "Nada está perdido, só depende de nós":  

Repetida após falhas operacionais, essa frase exemplifica a mistura de determinação e desespero que permeava o movimento golpista.

  • "A paz vem depois da tempestade":  

Usada para justificar o caos planejado, a frase sugere que os atos golpistas eram apenas uma etapa necessária para alcançar um suposto bem maior.

Conclusão

"A retórica peculiar dos líderes golpistas revelou muito mais do que intenções: ela foi uma ferramenta de manipulação, inspiração e intimidação. Por meio de frases cuidadosamente escolhidas e discursos inflamados, os líderes da conspiração criaram uma narrativa poderosa para atrair e mobilizar seguidores, mesmo que isso significasse romper com as bases do Estado Democrático de Direito", conclui a PF.

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