Seria inacreditável se não fosse vinda da turma do Bolsonaro a estratégia adotada pela defesa do ex-presidente às acusações de que ele seria o cabeça da quadrilha terrorista e criminosa que pretendia um golpe de Estado com o assassinato do presidente e do vice eleitos, Lula e Alckmin, e do presidente do TSE à época, ministro Alexandre de Moraes.
Numa entrevista à GloboNews na noite desta sexta, o advogado de Bolsonaro Paulo Amador da Cunha Bueno, sem corar, lançou a tese surreal de que o golpe não traria nenhum benefício a Bolsonaro, pelo contrário, o golpe seria também contra ele.
O fato de Jair Bolsonaro não ser mencionado no plano "Punhal Verde e Amarelo" é a base da estratégia a ser usada pela defesa do ex-presidente para jogar a culpa pela tentativa de golpe nos generais Heleno e Braga Netto.
"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do 'Plano Punhal Verde e Amarelo', e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro", disse o advogado de Bolsonaro em entrevista à GloboNews.
"Não tem o nome dele [Bolsonaro] lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo", afirmou ainda.
Só que Bolsonaro sabia do plano desde o início. Posto no papel pelo general Mário Fernandes, impresso no Planalto e levado a Bolsonaro, o "Plano Punhal Verde e Amarelo" só seria deflagrado após uma decisão que somente Bolsonaro como presidente poderia tomar: a da decretação de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), do estado de defesa ou do estado de sítio.
Bolsonaro havia aceitado o "assessoramento" do general Mário Fernandes, como prova o diálogo entre o general e o ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, quando o general comemorou uma fala de Bolsonaro a seus apoiadores e disse que o presidente havia aceitado seu "assessoramento".
"Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele", disse o general a Cid na noite do dia 9 de dezembro. [Folha]
Na verdade, o plano falava na criação de um "Gabinete de Crise", que seria comandado pelos generais Heleno e Braga Netto. Mas o presidente era Bolsonaro e no plano não constava seu assassinato nem sua prisão ou afastamento. Logo, com o golpe Jair Bolsonaro continuaria presidente, governando com um "Gabinete de Crise". Aliás, este era o objetivo do golpe.
A defesa de Bolsonaro segue o padrão que o ex-presidente usou durante toda a vida: tirar o corpo fora, desmentir-se, desdizer o que disse, fugir de assunto e culpar os outros. Sempre. Assim chegou à Presidência da República. Assim espera se livrar de mais uma.
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