A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo revela uma contradição gritante em sua “mentalidade” fiscal. Enquanto articulava em Brasília esta semana para derrubar a Medida Provisória (MP) 1303/2025, que previa a tributação de apostas online (as chamadas bets), bancos e aplicações financeiras isentas, com potencial de arrecadar R$ 35 bilhões para 2025 e 2026, no estado governado por ele sua administração avança na cobrança de ICMS (4%) sobre gorjetas de garçons que excedem 10% da conta.
A MP, que beneficiaria programas sociais e infraestrutura, foi reprovada em plenário após intensa pressão de Tarcísio sobre deputados do centrão, conforme confirmado pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), em um movimento que favoreceu empresas de bets e setores bilionários. No entanto, em território paulista, o governador não demonstra a mesma sensibilidade ao taxar a “caixinha” de trabalhadores de bares e restaurantes, uma renda essencial para cerca de 1,4 milhão de profissionais em 500 mil estabelecimentos.
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Essa tributação de gorjetas, baseada em um decreto estadual de 2012, é alvo de críticas da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (Fhoresp), que a considera “arbitrária e injusta”, já que a Lei Federal 13.419/2017 isenta gorjetas de impostos por serem rendimentos voluntários destinados exclusivamente aos garçons. A Fhoresp protocolou um ofício pedindo a revisão e suspensão das autuações, mas a medida segue em vigor, visando aumentar a arrecadação estadual. A postura de Tarcísio, que se apresenta como “defensor dos cidadãos” ao bloquear impostos federais sobre setores abastados, soa incoerente quando contrasta com a decisão de onerar simples trabalhadores que ganham pouco em São Paulo.
A articulação em Brasília para proteger interesses de grandes empresas, enquanto se mantém a tributação sobre a renda modesta de garçons, levanta questionamentos sobre as prioridades do bolsonarista. Críticos, como o deputado Kiko Celeguim (PT-SP), acusam Tarcísio de priorizar elites econômicas em detrimento das necessidades da população, especialmente em um momento de crise fiscal e social. Essa dualidade compromete a imagem de alguém que quer se passar por um “gestor comprometido com a justiça tributária” e expõe uma seletividade que favorece os mais ricos enquanto sobrecarrega trabalhadores de baixa renda.
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À medida que Tarcísio pavimenta sua pré-candidatura presidencial para 2026, sua gestão deve ser escrutinada para esclarecer se suas decisões refletem um compromisso genuíno com o bem-estar coletivo ou uma agenda alinhada a interesses privilegiados.