BRINDE À DESIGUALDADE

Champanhe nas fintechs e festa no camarote: como a Faria Lima celebrou a queda da MP do governo Lula

Executivos e investidores, segundo colunista, teriam feito comemorações pela queda da Medida Provisória que previa taxação de fundos de investimentos

Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, centro do capital especulativo do país.Créditos: Reuters/Folhapress
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Enquanto o governo Lula lamentava mais uma manobra do centrão e bolsonaristas, a elite financeira da Faria Lima abria garrafas de champanhe.

Reportagem de Gustavo Silva, publicada na coluna de Guilherme Amado no site "Platô BR", narra que a queda da Medida Provisória 1303/2025 – que previa a taxação de fundos e investimentos de alto rendimento – teria sido celebrada com brindes e até festa em camarote de balada por executivos de grandes gestoras e fintechs da avenida símbolo do capital especulativo brasileiro.

Segundo a apuração, um CEO de uma gestora de crédito corporativo chegou a alugar um camarote em uma casa noturna da região para comemorar o que chamou de “vitória do bom senso fiscal”. Outras quatro fintechs, duas delas ligadas ao agronegócio e outras ao setor imobiliário, também distribuíram espumante aos funcionários para celebrar o resultado que manteve seus lucros intocados.

A comemoração veio logo após a Câmara dos Deputados retirar de pauta a MP 1303, que previa substituir o aumento do IOF por uma taxação maior sobre o sistema financeiro, as apostas online e os super-ricos. A proposta, construída pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, visava ampliar a arrecadação sem pesar sobre o bolso da classe média e dos trabalhadores, mas foi sabotada por uma aliança entre o Centrão, o bolsonarismo e o lobby financeiro.

A MP era uma das principais apostas do governo para equilibrar as contas públicas sem sacrificar os mais pobres. O texto previa que fintechs, bancos e empresas de apostas passassem a contribuir com uma alíquota maior, chegando a 18%. Após negociações, o governo reduziu a proposta para 12%, mas, mesmo assim, os representantes dos setores financeiros e seus aliados no Congresso se recusaram a aprovar a medida.

A reação de Lula

Em entrevista à Rádio Piatã, de Salvador, o presidente Lula lamentou a derrota e classificou o episódio como uma vitória dos ricos sobre o povo brasileiro.

“É engraçado que o povo trabalhador paga 27,5% de imposto de renda do seu salário. E os ricos não querem pagar 12%. Então, eles acham que derrotaram o governo. Não derrotaram o governo, derrotaram o povo brasileiro”, afirmou.

O presidente também lembrou que a reposição das perdas deve vir de novos impostos sobre o sistema financeiro:

“Eu vou reunir o governo para discutir como é que a gente vai propor que o sistema financeiro, sobretudo as fintechs, que têm fintech hoje maior do que banco, paguem o imposto devido a esse país.”

Um brinde à desigualdade

Enquanto as garrafas de champanhe eram abertas na Faria Lima, Lula discursava em Camaçari (BA) na inauguração da fábrica da montadora chinesa BYD, responsável por gerar 20 mil empregos diretos. No evento, o presidente mandou um recado direto aos bilionários que comemoraram a derrota da MP:

“Eles podem saber que é uma questão de dias. Eles vão pagar o imposto que merecem aqui no Brasil, porque o povo trabalhador não vai deixar isso barato". 

A fala ecoou a indignação de aliados no Congresso. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a articulação do Centrão, com participação do governador paulista Tarcísio de Freitas e de Ciro Nogueira, como uma “sabotagem ao Brasil”. Segundo ele, o objetivo do grupo é criar um rombo fiscal de R$ 35 bilhões em 2026, prejudicando a economia e tentando desgastar o governo.

“Eles estão querendo derrubar uma medida que taxava setores econômicos poderosos, especialmente as fintechs da Faria Lima. É o velho método de Eduardo Cunha: criar o caos para tentar enfraquecer o governo”, disse Lindbergh.

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