A fundação do Partido Missão, impulsionada pelo MBL (Movimento Brasil Livre), enfrenta contestação judicial. Em agosto de 2025, a 174ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro identificou vício de consentimento em parte das fichas: 16 eleitores afirmaram ter assinado sem saber que se tratava da criação de um partido; outros 20 seguem em verificação grafotécnica. As 16 assinaturas foram anuladas e o caso, remetido à Polícia Federal, com inquérito instaurado em outubro por suspeita de falsidade ideológica e fraude. O MBL sustenta ter atingido o quórum nacional, mas a apuração pode fragilizar o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Antes de emergir como rosto do MBL e potencial nome do Missão à Presidência em 2026, Cristiano Beraldo (União-SP) foi executivo de confiança de Ricardo Magro, controlador da Refit (ex-Manguinhos), um conglomerado com histórico de contenciosos tributários e regulatórios. Documentos o situam na direção executiva, presidindo o Grupo Magro, liderando o rebranding para “Refit”, gerindo mídia/lobby e participando de operações logísticas e financeiras com interlocução com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Parlamento e fornecedores estratégicos.
Te podría interesar
O método descrito pelo próprio: bastidores de uma relação milionária
Em ação trabalhista de 2020, Beraldo relata ter recebido valores por meio de três empresas — Fairmont Consultores, MMB Marketing e Savoya Trading. Entre 2016 e 2019, essas empresas emitiram R$ 23,8 milhões em notas ao grupo, sendo R$ 14,3 milhões apenas pela Fairmont. Segundo os anexos, houve pagamentos via nota fiscal e acertos financeiros descritos como “quitação cruzada” de R$ 2,5 milhões, com validação de Ricardo Magro. A narrativa expõe subordinação direta, metas e ordens de comando, elementos que colidem com o discurso de moralização hoje associado à “nova política”.
Operação, logística e regulação: o centro da engrenagem
Os documentos obtidos situam Beraldo no centro da operação. E-mails e relatórios o mostram em negociações de contratos, transporte e armazenagem de combustíveis e tratativas regulatórias e fiscais — áreas sensíveis do setor. Ele aparece em reuniões com fornecedores e agentes públicos, acompanhando importações e processos na ANP. É acesso decisório, não atuação periférica.
Te podría interesar
Verbas de mídia e influência
O rebranding “Refit” veio com orçamentos robustos: campanha próxima de R$ 1 milhão em TV (RJ/SP), contratos com grandes jornais/portais e tratativas de patrocínio na Joven Pan, com interlocução com a cúpula da emissora em 2019, e onde hoje é comentarista liberal. Houve ainda patrocínio a eventos do Lide para acesso a autoridades (ex.: almoço com o presidente da Petrobras, 2019). O papel de Beraldo na alocação de verbas e na negociação com veículos levanta questionamentos de conflito de interesse, quando ele passa a atuar como comentarista em emissora antes patrocinada.
Rearranjo societário e patrimônio declarado
Em maio de 2022, às vésperas de registrar candidatura a deputado federal (União Brasil/SP), Beraldo deixa a Fairmont e transfere as cotas para a CBB Empreendimentos, ligada à ex-esposa, que assume a administração. Sua declaração de bens ao TSE registra R$ 1,85 milhão, valor que contrasta com a renda bruta faturada pelas empresas nos anos anteriores.
2025: interdição da Refit e cerco à cadeia de combustíveis
A Operação Carbono Oculto (Receita, MP, polícias e ANP) intensificou o escrutínio sobre sonegação, notas frias e adulteração (2020–2024). Em 26/09/2025, a ANP decretou interdição cautelar total da Refinaria de Manguinhos por “risco relevante” e irregularidades (estoques, tanques não autorizados, suspeita de “refino fantasma”, importação de produto acabado travestido de matéria-prima). A Refit nega ilícitos e classifica a medida como desproporcional. O contencioso segue. Observação: não há, nos documentos reunidos, indícios de Beraldo como alvo, o nexo é contextual ao período em que exerceu funções executivas.
No papel, a “nova política” promete transparência e ética. Nos bastidores, os números e as versões do seu principal porta-voz contam outra história — a de quem conhece por dentro as zonas cinzentas que costuma denunciar nos outros.