DISCURSO DE ÓDIO

Nikolas, que tem elo com máfia dos combustíveis, diz que "deveria ter morrido muito mais" no RJ

Deputado celebrou a chacina que deixou mais de 100 mortos no Rio, mas não teve o mesmo discurso enérgico contra o crime quando seu primo foi preso por tráfico

Créditos: Reprodução/Redes socias
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O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) comemorou a megaoperação policial que deixou mais de 100 mortos no Rio de Janeiro nesta terça-feira (28). Em vídeo publicado nas redes sociais, o parlamentar classificou a ação como “a maior faxina da história do Rio” e afirmou que “os criminosos que morreram não voltarão a cometer crimes”.

Durante o pronunciamento na Câmara dos Deputados, Nikolas declarou: “Pra mim, a cada sessenta que morrer, deveria ter morrido muito mais.”

Nas falas, o parlamentar apelou ao populismo penal, defendendo medidas como classificar facções criminosas como organizações terroristas, ampliar o poder da União sobre a segurança pública e adotar modelos de repressão inspirados no governo de Nayib Bukele, em El Salvador. Segundo ele, “o país precisa de menos Wagner Moura e mais Capitão Nascimento.”

A proposta de enquadrar o crime organizado como terrorismo também foi defendida recentemente por Flávio Bolsonaro, como justificativa para possíveis intervenções estrangeiras em território brasileiro.

Antes de divulgar o vídeo em que elogia a operação, o deputado escreveu no X (antigo Twitter): “Tupirani deve tá como essas horas?”, em referência ao pastor Tupirani da Hora Lores. Líder da Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo, Tupirani foi preso pela Polícia Federal em 2022 durante a Operação Rofésh, que investigou crimes de discurso de ódio e incitação à violência contra judeus e homossexuais.

O pronunciamento de Nikolas ocorreu no mesmo dia em que o site Diário do Centro do Mundo (DCM) publicou a reportagem “As conexões de Nikolas Ferreira com a Máfia dos Combustíveis”, assinada pela jornalista Sara Vivacqua.

A investigação aponta relações entre campanhas eleitorais do deputado e empresários investigados por fraudes fiscais e crimes econômicos em Minas Gerais, incluindo Ronosalto Pereira Neves, dono do grupo varejista Mart Minas, que confessou envolvimento em um esquema de repasses ilícitos ligados ao ex-senador Aécio Neves e à JBS. Segundo o DCM, os documentos analisados incluem doações eleitorais, contratos privados e registros judiciais que indicam uma rede de apoio político e financeiro composta por cartéis de combustíveis e empresários investigados por lavagem de dinheiro.

Primo de Nikolas foi preso com drogas em maio

Embora se apresente como inimigo do crime organizado, o primo de Nikolas, Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes, foi preso em flagrante durante uma operação de rotina em Uberlândia (MG), em maio de 2025, com 30 quilos de maconha e quatro gramas de cocaína, segundo registros policiais e do sistema carcerário.

O caso foi amplamente noticiado à época e serviu de munição para críticas ao discurso moralista do parlamentar, que costuma defender o endurecimento das penas e a ampliação da repressão ao tráfico de drogas.

 

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