O Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (30) recebeu Ricardo Cappelli, especialista em administração pública, ex-interventor federal de Segurança do Distrito Federal e ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), para analisar a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro realizada pelo governador Cláudio Castro, nesta terça-feira (28).
Para Cappelli, a forma como Castro conduz a Segurança Pública do Rio de Janeiro é uma "aberração". Ele afirmou que o governador faz política com a segurança do Estado, destruindo uma condução efetiva desta área para combater o crime organizado. "Ele deixa agentes políticos aliados dele indicarem secretário de segurança, indicarem chefe de batalhão, indicarem chefe de delegacia. Isso é um absurdo. Isso destrói a política de Segurança Pública", disse.
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"O crime organizado está penetrando na economia, nos poderes, ele ameaça a vida, ameaça a economia e ameaça o Estado Democrático de Direito. Então, é preciso ter uma união real dos poderes para enfrentar o crime organizado. Mas pelas primeiras declarações do governador, não me parece ser essa a intenção dele", acrescentou, se referindo aos últimos ataques de Castro contra o governo federal.
Cappelli ressaltou que a morte não é o objetivo da política de Segurança Pública, evidenciando a tragédia da operação policial de Castro que se tornou um verdadeiro massacre com mais de 120 mortos. O especialista também questionou quais serão as próximas medidas do governador se o objetivo dele for realmente o combate ao crime organizado.
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"Ele fez a operação, mas a polícia vai se manter no território para impedir que bandidos voltem a dominar a comunidade? Vai levar paz permanente? Aquela imensa população de mais de 200 mil pessoas que moram ali vão ter agora a segurança do Estado? Porque se for para entrar e sair para os bandidos voltarem, não faz nenhum sentido", afirmou Cappelli.
Ele ressaltou que é "inaceitável" que a sociedade naturalize 28 milhões de pessoas vivendo atrás de barricadas. "São pessoas que vivem numa pseudodemocracia, porque elas não têm seus direitos fundamentais respeitados. Veja, o tráfico de drogas existe em quase todo mundo. Agora, o domínio de território é gravíssimo. Isso atenta contra a soberania nacional e dilacera a democracia".
Para combater esse cenário, Cappelli defendeu que é preciso ter integração entre os diferentes poderes, como propõe a PEC da Segurança Pública apresentada pelo governo federal. "É fundamental que nós tenhamos um plano envolvendo todos os três níveis de poderes para a retomada da soberania do Brasil sobre o território nacional. Porque é inaceitável que a gente veja bandidos, marginais, andando livremente com fuzil, bazuca, granada, metralhadora e agora até drone", afirmou. "Essa é uma questão que precisa ser enfrentada com planejamento, inteligência e muita força", acrescentou.
Cappelli propôs, por exemplo, a utilização das Forças Armadas para fiscalizar as fronteiras e a chegada de armamento ilegal no Rio de Janeiro. "Nós temos no Brasil 80 mil homens na Marinha brasileira, desses, 50 mil estão baseados no Rio de Janeiro. Eles não podem ajudar a patrulhar a fronteira marítima do Rio de Janeiro? Nós temos 6 mil homens no Exército, eles não podem ajudar? Eu não estou dizendo para botar homens das Forças Armadas dentro de comunidade. Estou dizendo para botar homens das Forças Armadas para fortalecer, por exemplo, a fiscalização nas fronteiras", defendeu.
Governo Bolsonaro facilitou a disseminação de armas
Cappelli também falou sobre como o governo de Jair Bolsonaro (PL), defensor do armamento civil, facilitou a disseminação de armas pelo país através da flexibilização das regras para Colecionadores, Atiradores e Caçadores. "Há fortes indícios de que uma parcela importante desses clubes está desviando armas para o crime organizado. Qual é o dado? Triplicou o número de registros de CACs, são mais de 800 mil pessoas registradas como CACs no Brasil", disse. Ele acrescentou, ainda, que, ao mesmo tempo, triplicou o número de registros de boletins de ocorrência de CACs relatando que foram roubados ou furtados.
"Vão às delegacias e fazem o boletim de ocorrência, dizendo que roubaram ou furtaram as armas que eles possuíam. Será que foram realmente roubadas ou furtadas? Ou será que esse boletim de ocorrência é apenas para esquentar o desvio dessas armas para o crime organizado? Então, é preciso apurar isso a fundo", completou.
Confira a entrevista completa de Ricardo Cappelli ao Fórum Onze e Meia
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