Ao se "solidarizar" com o colega Cláudio Castro (PL), do Rio de Janeiro, pela matança de 121 pessoas na desastrosa operação contra o Comando Vermelho, o governador paulista Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) resolveu assumir a frente do lobby pró Donald Trump para transformar as facções criminosas brasileiras em "terroristas" e, assim, avalizar uma possível ação armada no país sem a necessidade de comunicar o governo Lula.
Principal aposta da terceira via para fazer frente à tentativa de reeleição de Lula ao Planalto, Tarcísio deve exonerar Guilherme Derrite (PP-SP) da secretaria de Segurança Pública para que ele retome o mandato de deputado federal e assuma a relatoria do Projeto de Lei 1283/2025, do deputado bolsonarista Danilo Forte (União-CE), para classificar facções criminosas como o CV e o PCC como organizações terroristas.
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A informação foi repassada ao site Metrópoles pelo deputado Júlio Lopes (PP-RJ) após reunião da bancada da sigla nesta quarta-feira (29). Atual relator, Nikolas Ferreira (PL-MG) já afirmou que abre mão da função para repassar a Derrite.
Comandando a política de repressão policial no governo paulista, Derrite já tem garantida a candidatura ao Senado, mas já sinalizou que pode entrar na disputa ao governo do Estado caso Tarcísio confirme a candidatura à Presidência. Nas campanhas, ambos devem levar o debate sobre segurança pública como principal bandeira para fazer frente ao que a direita considera o calcanhar de Aquiles do governo Lula e do campo progressista, em uma nova versão do "bandido bom é bandido morto" de Jair Bolsonaro (PL).
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Elogios a Castro e sinalização nas redes
Agindo com parcimônia na guerra declarada pelo colega no Rio de Janeiro, Tarcísio se pronunciou na noite desta quarta-feira sobre a operação no Rio, se solidarizando apenas com Castro e as famílias dos 4 policiais mortos na operação - ignorando as famílias dos mais de 100 assassinados na maior chacina já realizada na cidade onde nasceu.
"Minha solidariedade ao governador Cláudio Castro, às famílias dos policiais que tombaram heroicamente em combate e à população que sofre as consequências dessa violência desmedida", escreveu ao encerar o fio na rede X.
Na publicação, Tarcísio sinalizou que encampará a guerra ao "terror", assumindo o lobby pró Trump.
"Não se pode imaginar que esses criminosos não sabem o que fazem ou que são vítimas da sociedade", escreveu, alfinetando Lula pela declaração recente do presidente sobre o tema, usada pela ultradireita. "Eles impõem o terror", segue, revelando o verdadeiro propósito da publicação.
Após citar o general prussiano Carl von Clausewitz, autor do livro Da Guerra - de leitura obrigatória nas colunas militares -, Tarcísio cita a questão das "fronteiras", em mais uma sinalização ao governo dos EUA.
"As armas e drogas comercializadas no país, em sua grande maioria, não são produzidas aqui. Então, como chegaram às comunidades do Rio? Por onde entraram? Isso evidencia o quanto o Estado tem falhado na vigilância de suas fronteiras".
Clã Bolsonaro
Ao assumir o lobby pró Trump, Tarcísio abre mais um flanco de disputa com o clã Bolsonaro, que até o momento estava à frente da questão após Flávio Bolsonaro (PL-RJ) pedir para o presidente dos EUA bombardear barcos na Baía de Guanabara.
O senador vem atuando como principal lobista do governo Trump de emplacar no Brasil a tese de que o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC) são "organizações terroristas". Os EUA têm no "terrorismo" o álibi para invadir países com operações armadas sem o aval de governos locais, sob a justificativa de uma ação de autodefesa.
Na semana passada, Trump afirmou que os EUA pretendem fazer "operações terrestres" contra cartéis de drogas latino-americanos "muito em breve", mirando a Venezuela e a Colômbia. Antes, o magnata classificou Nicolás Maduro e Gustavo Petro, presidentes dos dois países, como líderes do "narcoterrorismo", mesma pecha que a ultradireita bolsonarista tenta colar em Lula.
A declaração acontece em meio aos ataques dos EUA a barcos na América do Sul, sob o álibi de combate ao tráfico, que gerou o pedido de Flávio para que os EUA bombardeassem embarcações "aqui no Rio de Janeiro, na Baía de Guanabara".
Nesta terça-feira, enquanto as autoridades contavam os mortos e policiais eram socorridos em hospitais e choravam a morte dos colegas, Flávio voltou às redes para dizer que "nós entendemos que essas facções são grupos terroristas".
"Pessoal, olha esse arsenal de guerra que foi apreendido em um único dia só nessa operação no Rio de Janeiro e me fala se esses marginais não têm sido tratados como terroristas", disparou.
Em texto em inglês, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) papagueia o irmão citando uma audiência pública realizada pelo deputado estadual Márcio Gualberto (PL-RJ), cúmplice do clã na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), sobre o Comando Vermelho.
"Alertamos que isso aconteceria, pois estamos lidando com narcoterroristas", escreve o filho "02" de Bolsonaro.
Em seguida, Carlos cita justamente a pressão do governo Trump para que o Brasil abrisse mão de sua soberania e classificasse as organizações como "terroristas". Dessa forma, os EUA poderiam "bombardear a Baía de Guanabara", como pediu Flávio, sem o aval do governo brasileiro.
"Em maio de 2025, o governo brasileiro, liderado pelo presidente Lula, rejeitou uma proposta dos Estados Unidos para classificar o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho (CV) como organizações terroristas. O Brasil argumentou que, segundo a legislação nacional, essas facções não se qualificam como terroristas", escreveu.
Em seguida, Carlos cita o Projeto de Lei 1283/2025, do deputado bolsonarista Danilo Forte (União-CE), para incluir facções criminosas e milícias como organizações terroristas, que é um dos principais focos da bancada liderada pelo clã, além da anistia, na Câmara.
"Embora o projeto tenha sido considerado em regime de urgência, ele não avançou devido à oposição do governo Lula", diz Carlos.